sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Rocamadour

Roucamadour - França - 1994

Imagine-se um pequeno planalto.
Imagine-se agora um rio que, com o passar dos anos, rasgou um desfiladeiro através desse planalto.
É essa a paisagem que nos rodeia.

Estamos no sudoeste de França, na região de Quercy.
A estrada, não muito larga, serpenteia pelo meio de uma das encontas do desfiladeiro. O tempo está bom e a paisagem convida à contemplação.
Sabiamos que estávamos perto do nosso destino mas não exactamente quanto. De repente, no desfazer de uma das curvas surge a povoação, deslumbrante, do outro lado do desfiladeiro.
A imagem, inesperada, é fascinante.

O nosso destino é um importante lugar de peregrinação da Idade Média. A imagem da Virgem, negra, milagrosa, uma das mais antigas que se conhece.
Como em muitos outros locais de peregrinação medievais, esperava uma povoação antiga, centrada na sua catedral, eventualmente acastelada, semelhante a tantas outras cidades francesas ou espanholas que conheço. Uma vez que anteriormente não tinha visto qualquer fotografia do lugar, nada me tinha preparado para o que me esperava.

Na encosta oposta, como que penduradas ou cravadas nas escarpas, viam-se as casas antigas e em pedra, de Rocamadour.
No cimo o castelo vigilante e dominador, abaixo a igreja integrada na povoação, que basicamente se resume a duas ruas compridas, “paralelas”, uma sobre a outra. Finalmente, em baixo, o vale verdejante de cultivo.

Apesar da estrada ser estreita, conseguimos parar o carro e tirar uma fotografia. Infelizmente não se pode parar em qualquer lado e as árvores taparam parte da imagem.

Mesmo já lá tendo voltado outras vezes é esta primeira recordação que me vem à memória, sempre que se fala de Rocamadour.


Informação adicional em:


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Um café por favor

Santiago de Compostela - Espanha - 2011

Se há habito que nos está enraizado, como bons portugueses, é o de beber um cafézinho, normalmente depois da refeição.

Se cá dentro do nosso cantinho são inumeros os locais onde já bebi excelente café, saindo do nosso país é-se rapidamente obrigado a perder o hábito.

Por todos os lugares por onde já tive oportunidade de passar, poucos são aqueles em que pude beber um café digno desse nome. Pelo menos para os nossos padrões.
Assim de repente, lembro-me apenas de Andorra (a comunidade portuguesa é grande e o café Delta abunda).
Em Viena (Áustria) tenho algumas boas recordações (o café Landtmann é uma delas) e de Itália não tenho qualquer recordação (o que já não é mau)..

Não tanto o roubo do que nos pedem pelo “luxo” (nem o tamanho descomunal das colheres que os franceses utilizam), mas a qualidado do que me serviram, fez com que, basicamente, deixasse de consumir café à refeição sempre que vou de férias para fora do nosso país
Apenas quando tomo o pequeno almoço no hotel é que bebo algum café (quase sempre de “filtro”), sendo que a maior parte das vezes é razoavel, quando não mesmo de boa qualidade.

Apesar de em Espanha as coisas começarem a melhorar, sempre que se fala de café espanhol vem-me à memória o (mau) gosto do que por lá bebi. Queimado, águado, de lotes intragáveis. De tudo já me foi servido. Muitas vezes nem o aumento da quantidade de açucar disfarça o sabor daquela tijela de água castanha que nos é dada quando se pede um café “solo” (designação sagrada se não queremos apanhar com uma “meia de leite”).

Em França a quantidade servida também é generosa. E mesmo a designação expresso não é sinónimo de pouca quantidade. Quanto à qualidade é dificil de distinguir da de Espanha.

Na Grã-Bretanha, para além da experiência que abaixo relato, experimentei beber um expresso num Starbucks. Mas, para além de queimar a boca, o desconsolo ganhou novamente.

Com todas estas experiências, a Manela optou por passar a pedir capuccino uma vez que, normalmente as natas (ou se preferirem o leite) é de boa qualidade. Ou então descafeinado (já está moido em saquimhos e o sabor dificil de adulterar).

Nos tempos que correm começa a aparecer outra alternativa (embora mais cara): as lojas da ‘Nespresso’. No entanto não abundam.

Com muitos cafés bebidos, ao longo dos tempos fui colecionando alguns traumas. Seguem-se os mais “trágicos”:

1. Parque natural de Somiedo (Asturias), 1994.
Estávamos nós acampados no meio do monte, com o frio natural da serra (mesmo no verão) quando decidimos ir até à casa abrigo do parque. Ao entramos veio-nos o agradével cheiro do café. Ao fundo, atrás do balcão, via-se reluzente uma máquina de café expresso. Neste cenário, aliado à saudade do nosso bom cafézinho, caimos na esparrela de pedir dois cafés solos.
Primeiro a moagem, o aconchegar do café na ‘bica’ da máquina... tudo parecia perfeito. Foi então que aconteceu. Em vez do lento e aromático escorrer do café para dentro da chavena, assistimos incrédulos e impotentes ao diluvio que encheu rápida e generosamente as chávenas que repousavam por baixo. Mais concentrado até poderia ter sido um bom café.

2. Edimburgo (Escócia), 1985.
Estávamos há mais de uma semana fora de casa (e sem ter bebido um único cafézinho). O comboio acabava de nos largar na estação central de Edimburgo. Ali, num pequeno centro comercial decidimos almoçar naquilo que, para nós, era uma novidade e uma solução muito original. Uma ‘praça’ cheia de mesas e cadeiras, rodeada de lojas de comida, cada uma com a sua especialidade, e onde podiamos comprar os componentes do que iria ser a nossa refeição. Após o almoço chegou-nos o cheiro aromático e embriagante do café. Nostálgicos, demos por nós numa das lojas, a olhar para uma parede cheia de lotes de diferentes cafés de todo o mundo. Apesar do dinheiro não ser demasiado, decidimos presentearmo-nos com um pequeno luxo e, cada um, beber um café, lote Brasil.
Os copos eram de plástico, mas enfim, era um centro comercial. No entanto, após despejar o pacote de açucar e ter a visão dos cristais lá no fundo do copo, através do liquido que nos tinham vendido, fez-nos duvidar se, de facto, nos tinham servido um café. Só a adição de natas pasteurizadas deu algum sabor à infusão que bebemos e a que alguém apelidou de café.

3. Dax (França), 2007
Ao fim de algum tempo de andarmos a beber café numas ‘almoçadeiras’ (mesmo os cafés expresso são demasiado cheios), descobrimos que a palavra mágica para conseguir um café curto, semelhante à nossa “bica” era a palavra serré (“un café serré”). No entanto, como se diz na giria, não há bela sem senão.
Tinhamos nós acabado de jantar quando chegou o fatidico momento. Como habitual eu pedi ‘un expresso serré’, fazendo com a mão o sinal de poucochinho (que mesmo pedindo serré já tinha apanhado com uns cafés cheios). ‘Trés serré?’ perguntou o empregado, ‘trés serré!’ respondi eu convicto. Na volta do serviço trouxeram-me uma chávena com um fundinho de café (de tal ordem que o açucar despejado do pacote ficava fora do liquido). Claro que não tive coragem de reclamar e bebi, desconsolado, o meu café "trés serré".

Talvez seja por estas coisas que, assim que passamos a fronteira, a primeira coisa que procuramos é um sitio para beber um qualquer café, por mais “rasca” que seja, e começar a saborear o regresso a casa.


Informação adicional em:
Wikipedia - Café Expresso
e, claro (passe a publicidade), Cafés Delta


domingo, 23 de fevereiro de 2014

Mona Lisa e eu

Museu do Louvre, Paris - França - 2005

A primeira vez que realmente a vi foi em 1985.

Estava atrás de um vidro grosso, rodeada por uma multidão de turistas.

O local, uma pequena sala cheia de conhecidos quadros de Leonardo da Vince, abandonados dos olhos dos visitantes.

Demorei quase 20 minutos a chegar à frente da multidão para a poder ver mais de perto.

A sensação que senti foi algo estranha. Um misto de fascínio e de desilusão. Por um lado a grandiosidade do nome. Por outro a pequenez, diria mesmo a humildade, do quadro.

Curiosamente estava também rodeada de cartazes a pedir para que quem a fotografasse não fizesse uso de flash para não danificar o quadro. Passou-se aliás um pequeno incidente com um turista oriental. Desconhecedor da sua pequena máquina compacta, esta acendeu automáticamente o flash no momento do disparo. Gerou-se um côro de protestos de tal ordem que quase tive medo de assistir, em directo, a um linchamento público.

Em 2005 tive a possibilidade de a rever. Já lhe tinha passado o "código da Vinci" por cima e fui encontrá-la numa grande sala, em lugar privilegiado, afastada dos outros quadros do seu autor.

Curiosamente o destaque agora atribuido não só aumentava a sua pequenez (e infelizmente a minha desilusão) como também alguma indiferença nos seus visitantes.

Havia mais pessoas interessadas em se fazer fotografar junto dela, provocando o constante relampejar dos flashes das máquinas digitais e dos telemóveis (sem que alguém se importasse com o facto), do que própriamente daqueles que a queriam contemplar. 

Curiosamente veio-me à cabeça a célebre teoria conspirativa de que, de facto, o verdadeiro quadro não é o que está exposto.
Mas estes pensamentos passaram rápidamente para outro plano. O Louvre é um mundo e o tempo de visita escasso, pelo que há que continuar para o próximo ponto de visita.
No nosso caso, La Tour.


Informação adicional em: