terça-feira, 28 de outubro de 2014

A Torre Redonda

Rundetaarn, Copenhaga - 2009
Copenhaga é uma cidade baixa. Como tal, qualquer torre ou campanário mais alto destaca-se facilmente no horizonte. E há vários.
Um destes pontos altos é a Rundetaarn ou Torre Redonda.

A Torre Redonda, edificada entre 1637 e 1642 por ordem de Cristiano IV, faz parte de um complexo de edifícios, composto por uma igreja, uma biblioteca e um observatório astronómico.
O observatório fica situado no cimo da torre e é rodeado por uma varanda larga.

É por ser construída para servir de base ao observatório que esta torre se tornou particularmente original. No seu interior foi construída uma larga rampa em espiral, com 209 m de extensão, e que dá 7,5 voltas sobre si mesma, até atingir o cimo.
A razão desta rampa prende-se com a necessidade que houve, na altura da sua construção, de transportar os equipamentos de observação até ao seu topo.
Actualmente, e para além do acesso ao observatório e à sua varanda, a rampa serve também para uma original prova desportiva: uma corrida de monociclos .

A subida, apesar de inclinada, faz-se sem grandes problemas. Mas se nos distraímos, facilmente chegamos lá acima um pouco mais ofegantes.
Talvez para evitar esse cansaço, ao longo da subida existem algumas portas que dão acesso a salas do edifício adjacente e onde é possível visitar algumas exposições temporárias. A visita é sempre um bom pretexto para se ir fazendo umas pausas pelo caminho,

Subi uma única vez ao cimo da Torre Redonda (e não, não foi de monociclo...). O percurso é fresco e, no cimo, na varanda que rodeia o observatório, temos uma fabulosa vista de 360º sobre a cidade.

E, ao fim de uma tarde de verão, com uma leve brisa morna, acreditem, é muito agradável.


Informação adicional em:
A Rundetaarn
A Rundetaarn na Wikipédia

A corrida de monociclos (site oficial)
A corrida de monociclos na Wikipédia


domingo, 12 de outubro de 2014

Fragas de Panóias

Santuário de Panoias, Vila Real, Portugal - 1982
1982.
Nesse ano as férias só poderiam correr bem. Tínhamos uma boa tenda, tínhamos um carro (o Fiat 600 que se vê na fotografia, ao fundo, junto às casas) e eu tinha as minhas primeiras férias pagas (começara a trabalhar). Como tal, só nos restava seguir à aventura pelo país fora.

O Norte sempre fora, para mim, uma zona desconhecida. Trás-os-Montes então era um longínquo lugar, quase mítico. E como não tinham ainda começado a chegar os subsídios da CEE, viajar pelas estradas portuguesas era já por si uma aventura.

Foi com o espírito da descoberta que chegamos a Vila Real de Trás-os Montes.
Uma vez acampados no Parque Municipal (que a memória me diz ser um parque simpático), só nos restava mesmo explorar o que a região tinha para nos surpreender. E a verdade é que tinha.

Confesso que até essa data nunca tinha ouvido falar de Panóias, No entanto, ao fim de algumas voltas chegamos lá, ao "Santuário de Panóias". Um penedio junto a uma aldeia que, para nós, estava longe de tudo.

Para quem lá chega é uma visão estranha. No meio das fragas, abrem-se na rocha uns degraus que nos conduzem a uns buracos rectangulares, com o aspecto de sepulturas.
Depois apercebemo-nos da existência de regos, também eles escavados na pedra.
É um lugar sagrado, de sacrifício.

Ainda na rocha existem inscrições romanas, inscrições essas que, de alguma forma, nos situam o santuário no tempo. Algo que para mim me pareceu anacrónico.
Dos romanos temos a ideia das construções clássicas, de blocos de pedra e colunas. Ali não, tudo tem um aspecto mais "troglodítico".
Para além das pedras esculpidas e da calma que as rodeava, nada mais havia para ver. Mas chegava. Valeu bem a viagem,

Nunca mais lá voltei (nem a Vila Real) mas este lugar fez-me tomar consciência de que no nosso país existem lugares muito estranhos e curiosos. Razão pela qual nunca mais o esquecerei.


Informação adicional em:
Santuário de Panóias (Wikipédia)
Guia da Cidade (Panóias)
SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitectónico
DGCP
Museu de Vila Real

domingo, 5 de outubro de 2014

Memória

Torre de Londres, Londres - 2014
Sempre fui muito critico com as chamadas “instalações".
Das muitas que já tive oportunidade de ver ao longo dos anos, poucas foram aquelas de que eu tenha gostado, reconhecido o sentido, ou impressionado.
Na minha perspectiva não é só o facto de se descontextualizar um objecto, reestruturar um conjunto de objectos, ou recriar um espaço, que me faz considerar só por si, que isso seja arte ou, no minimo, uma provocação. No entanto há honrosas excepções que me fazem considerar e dar credibilidade ao género,

Neste ano de 2014 assinalam-se os 100 anos do início daquela a que se viria a chamar "A Grande Guerra".
Infelizmente todos nós conhecemos o horror que a mesma foi, bem como as consequências que ela teve.

Para lembrar a efeméride, um pouco por toda a parte, nomeadamente na Europa, organizaram-se diversos eventos e cerimónias solenes.
De todos estes acontecimentos nenhum me marcou especialmente. Apenas ficou no fundo da minha memõria que a guerra tinha começado, fazia agora cem anos.

Mas a arte tem destas coisas. No momento em que menos esperava, a lembrança desta guerra e das vitmas que ela causou, cairam-me em cima, da forma mais estranha que eu poderia imaginar.
Neste verão, ao chegar junto da Torre de Londres fui surpreendido com um espectacular memorial aos soldados mortos na Grande Guerra.
Uma instalação, da autoria de  Paul Cummins, cercou a Torre de Londres com 888.246 papoilas vermelhas, em cerâmica. Uma por cada soldado britânico morto durante a guerra.

O contraste entre o imenso campo florido e a estrutura militar (também ela de má memória) onde as flores foram “plantadas”, tornava o conjunto um misto de dramático, estranho e ao mesmo tempo fascinante.

Mesmo que se desconheça a intenção ou o significado da obra, a visão desta mancha vermelha que “escorre” das muralhas é arrebatadora, sendo impossível ficar-lhe indiferente.
Para o provar bastava o facto da multidão de visitantes que, como eu, olhava o fosso florido, se ter mantido num silêncio ou num sussurro quase religioso, enquanto contemplava a obra.

É face a obras como esta que me reconcilio com as ditas "instalações".

Ah! Apenas como curiosidade: a esta instalação o autor deu o nome de "Blood Swept Lands and Seas of Red" (o sangue cobriu as terras e os mares de vermelho). Mas ter este ou outro nome não altera em nada o impacto da sua visão.


Informação adicional em:
WW1 UK Events
poppies.hrp.org.uk
A Primeira Guerra Mundial - Wikipedia