domingo, 15 de março de 2015

Realidades paralelas

Arco do Triunfo, Paris, França - 2004
Li algures que, num conflito entre duas partes, há sempre, pelo menos, três realidades: aquela que é contada por cada uma das partes e a que de facto aconteceu.

Este pensamento ocorreu-me a propósito das invasões francesas, acontecimento cujo bi-centenário do seu fim se celebrou no ano passado.

Para quem não está familiarizado com o tema eu passo a resumi-lo rapidamente (na minha versão livre, claro):

Napoleão Bonaparte, na sua ânsia de expandir o império e após várias conquistas, decidiu invadir a Grã-Bretanha. Como uma ilha tem o defeito de estar rodeada de água, o que dificulta a sua invasão, ordenou que todos os portos do continente se fechassem ao barcos britânicos.
Ora tendo em 1386 Portugal assinado o tratado de Windsor com a coroa britânica, o rei português decidiu não acatar as ordens do imperador francês. Este acto levou Napoleão a enviar um exército para que se cumprissem as suas ordens e se fechassem os portos portugueses.
Para "nos" defender, os britânicos enviaram também tropas para Portugal. Como se antevia que a vida por cá ia ficar um pouco complicada, as cortes portuguesas aproveitaram a ocasião para ir a banhos para o Brasil, tendo o nosso rei entregue as chaves do país a Sir Artur Wellesley.
Junot, Soult e Masséna comandaram os três corpos expedicionários enviados por Napoleão, sendo que, o último, esbarrou com as chamadas Linhas de Torres, construídas nos entretantos, dando por findas as invasões.

Já agora, e por mera curiosidade, refira-se que as Linhas de Torres consistiam num sistema defensivo em três frentes, sendo que as duas primeiras protegiam a península de  Lisboa enquanto que a última, junto a Cascais, garantia a retirada em segurança das tropas britânicas, o que não foi necessário.

Como se pode depreender, os perto de sete anos que duraram as guerras peninsulares contaram com muitas e sangrentas batalhas originando gloriosas e retumbantes vitórias.

E é neste ponto que regressamos ao meu comentário inicial.

Tendo vivido muitos anos à sombra das vitórias "portuguesas" (Buçaco, Roliça, Vimeiro, etc.) foi com particular espanto que, quando visitei o Arco do Triunfo, em Paris, não encontrei lá qualquer referência ás batalhas que conhecia.
Em contrapartida estavam lá identificadas localidades portuguesas onde deverão ter ocorrido batalhas de que nunca tinha sequer ouvido falar (e de que, presumo, os franceses deverão ter saído vencedores).

E é assim que descubro que, aquele monumento icónico da cidade de Paris, é, na realidade, um portal para uma realidade paralela àquela em que eu toda a vida vivi.


Informação adicional em:
A Guerra Peninsular - Uma perspectiva portuguesa
A Guerra Peninsular - Wikipedia

1807-1808 : Campagne du Portugal, En route vers l'Espagne
1810-1811 : La Campagne du Portugal
Invasions françaises du Portugal - Wikipedia

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