sábado, 9 de setembro de 2017

Refrigerantes

Edimburgo 2017

Na minha juventude os refrigerantes a que tínhamos acesso eram todos de carácter local ou nacional (ou assim pensava eu).

Os mais vulgares eram as gasosas (doces, transparentes e com muito gás) e as laranjadas (iguais mas laranja vivo). Da marca “Torreense” ou de outra marca qualquer, poder beber algo que não fosse água, era uma enorme satisfação.
E nos dias de sorte podíamos beber ‘Sumol’ (de laranja ou ananás), ‘Laranjina C’ ou ‘Canada Dry’, que também tinha gasosas mas, sobretudo, cola – Spur Cola.

Acompanhar uma refeição com um refrigerante era um luxo que só acontecia num dia de férias ou numa visita a algum familiar, para não falar, claro está, nos casamentos e nos baptizados.

Marcas como a Coca Cola, Fanta ou Sprite só se viam nos filmes e estavam reservadas aos poucos que íam ao estrangeiro (leia-se Espanha). E saber que alguém bebera uma dessas bebidas era motivo de inveja (quer na vertente de “fazer..”, como, sobretudo, na de “ter...”).

Com o 25 de Abril abriram-se portas às multinacionais (e à descoberta de que algumas já cá estavam). A primeira garrafa de Coca Cola comprada lá em casa ainda subsiste (a fazer de jarra solitária), qual marco do fim do isolamento a que o país se tinha sujeitado.

A entrada das grande companhias e, sobretudo, a globalização fez desaparecer os produtores locais (alguns com produções de qualidade dúbia) e transformou os fabricantes nacionais em fabricantes das marcas “globais”.
É por isso que, quando nos deslocamos a qualquer lugar, os refrigerantes que encontramos são sempre os mesmos, ou versões dos mesmos.

No entanto, quando olhamos mais atentamente para as ofertas de refrigerantes que encontramos, verificamos existirem “pequenos desvios” no marasmo que é a lista dos refrigerantes que nos são apresentados nos supermercados e nos restaurantes.

Esta questão colocou-se-me pela primeira vez, em França.
Para variar das sucessivas colas que a Joana bebia às refeições, "descobrimos" a limonade (das mais variadas marcas), isto é, a familiar gasosa que bebia na minha infância.
Na prática água gaseificada com açúcar (ou derivado) e gosto suave a limão(?). Básica qb para não parecer ser nem uma Sprite ou 7Up, nem um sofisticado refrigerante de limão. Uma limonade, e pronto.

Foi assim que, aos poucos, me apercebi de que, localmente, existem bebidas que acabam por ser uma espécie de resistência a essa globalização, e que basicamente apenas os locais conhecem e/ou bebem.
Nos casos mais simples estão as gasosas que referi ou a ‘nossa’ Sumol, marca muito ‘nossa’, embora idêntica a muitas outras existentes noutros países (os franceses têm a Orangina).
Mas existem casos mais radicais. Este ano deparei-me com a escocesa Irn Bru, bebida laranja “apaga-a-luz”, fortemente gaseificada e que sabe a rebuçado de laranja.
Escolhi-a como alternativa às opções existentes. Ao bebê-la, não só me fez relembrar alguma infância, como me deu adicionalmente um ar rebelde.
Pelo menos foi o que senti, onde a minha bebida se destacava, numa sala em que os miúdos todos que ali almoçavam bebiam cola ou derivados.


À noite reconciliei-me com a vida adulta, e, frente a um pint de uma boa cerveja artesanal, conversei alegremente com os meus companheiros de refeição.

sábado, 18 de março de 2017

Uma ovelha num museu

Edimburgo, 2016
Eu tinha acabado de entrar num dos salões do Museu Nacional da Escócia e à minha frente estava uma ovelha, igual a muitas outras que eu já tinha visto ao longo da minha vida. Lanzuda, com um ar pacato e destoando completamente de tudo o que a rodeia.

À sua volta estavam automóveis de formula 1, aviões, telemóveis e muitos outros objectos de tecnologia de ponta.
E no entanto ela tinha toda a legitimidade para estar ali.

Antes de se ler a placa que a acompanha, qualquer um, apanhado desprevenido, poderia especular sobre qual a razão da sua presença numa sala de museu, dedicada à tecnologia..
As fibras e os tecidos? O leite e os seus derivados? Novas técnicas de pastagem?
Não. Nada disso.
A razão da sua presença neste museu deve-se à sua origem. Outra ovelha.

Bom, dito assim pode parecer estranho, mas, de facto, é a sua origem que a torna única (bom, também não exactamente) e um produto hi-tec.
Os seus genes são exactamente iguais aos de outra ovelha mais velha.

Claro que estamos a falar da ovelha Dolly e de clonagem.

Curiosamente eu já sabia que ela estava por ali. No entanto, a sua presença ("empalhada") não deixou de me surpreender.

Olhando para ela não lhe conseguimos identificar nada de estranho ou extraordinário. É apenas mais uma ovelha. Mas, o facto de existir representa um passo importante na genética.

Passada a “surpresa” e a observação do inocente animal, segui a minha visita, passando ao objecto seguinte da exposição.
No entanto não deixei de constar que é este também um dos fascínios dos museus. Olharmos para objectos, aparentemente comuns, por vezes com um aspecto inocente e insignificante, e descobrimos que carregam uma história rica, complexa e surpreendente.


Informação adicional em:
Ovelha Dolly - Wikipedia
Clonagem da ovelha Dolly
The National Museum of Scotland

E, porque não, a inspiradora do nome, Dolly Parton