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Edimburgo 2017 |
Na minha juventude os refrigerantes a que tínhamos acesso eram todos de carácter local ou nacional (ou assim pensava eu).
Os mais vulgares eram as
gasosas (doces, transparentes e com muito gás) e as laranjadas (iguais mas
laranja vivo). Da marca “Torreense” ou de outra marca qualquer, poder beber algo que não fosse água, era uma enorme satisfação.
E nos dias de sorte podíamos
beber ‘Sumol’ (de laranja ou ananás), ‘Laranjina C’ ou ‘Canada Dry’, que também
tinha gasosas mas, sobretudo, cola – Spur Cola.
Acompanhar uma refeição com
um refrigerante era um luxo que só acontecia num dia de férias ou numa visita a algum familiar,
para não falar, claro está, nos casamentos e nos baptizados.
Marcas como a Coca Cola, Fanta
ou Sprite só se viam nos filmes e estavam reservadas aos poucos que íam ao
estrangeiro (leia-se Espanha). E saber que alguém bebera uma dessas bebidas era motivo de inveja (quer na vertente de “fazer..”, como, sobretudo, na de “ter...”).
Com o 25 de Abril abriram-se
portas às multinacionais (e à descoberta de que algumas já cá estavam). A
primeira garrafa de Coca Cola comprada lá em casa ainda subsiste (a fazer de
jarra solitária), qual marco do fim do isolamento a que o país se tinha
sujeitado.
A entrada das grande
companhias e, sobretudo, a globalização fez desaparecer os produtores locais (alguns com
produções de qualidade dúbia) e transformou os fabricantes nacionais em
fabricantes das marcas “globais”.
É por isso que, quando nos
deslocamos a qualquer lugar, os refrigerantes que encontramos são sempre os
mesmos, ou versões dos mesmos.
No entanto, quando olhamos
mais atentamente para as ofertas de refrigerantes que encontramos, verificamos existirem “pequenos desvios” no marasmo que é a lista dos refrigerantes que nos são apresentados
nos supermercados e nos restaurantes.
Esta questão colocou-se-me
pela primeira vez, em França.
Para variar das sucessivas
colas que a Joana bebia às refeições, "descobrimos" a limonade (das mais variadas marcas), isto é, a familiar gasosa que bebia
na minha infância.
Na prática água gaseificada com açúcar (ou derivado) e gosto suave a limão(?). Básica qb para não parecer ser nem
uma Sprite ou 7Up, nem um sofisticado refrigerante de limão. Uma limonade, e pronto.
Foi assim que, aos poucos, me apercebi de que, localmente, existem bebidas que acabam por ser uma espécie
de resistência a essa globalização, e que basicamente apenas os locais conhecem
e/ou bebem.
Nos casos mais simples estão
as gasosas que referi ou a ‘nossa’ Sumol, marca muito ‘nossa’, embora idêntica
a muitas outras existentes noutros países (os franceses têm a Orangina).
Mas existem casos
mais radicais. Este ano deparei-me com a escocesa Irn Bru, bebida laranja “apaga-a-luz”,
fortemente gaseificada e que sabe a rebuçado de laranja.
Escolhi-a como alternativa
às opções existentes. Ao bebê-la, não só me fez relembrar alguma infância, como me deu
adicionalmente um ar rebelde.
Pelo menos foi o que senti, onde
a minha bebida se destacava, numa sala em que os miúdos todos que ali almoçavam
bebiam cola ou derivados.
À noite reconciliei-me com a
vida adulta, e, frente a um pint de uma
boa cerveja artesanal, conversei alegremente com os meus companheiros de refeição.