terça-feira, 21 de dezembro de 2021

A memória do convento

Palácio Nacional de Mafra - Julho 2021 (Foto Mario Matos)

Refere a História de que era para ser um pequeno convento para 13 frades. Acabou por se tornar num imenso edifício com cerca de 1.200 divisões, 4.700 portas e janelas, 156 escadarias e 29 pátios e saguões, tudo dentro de cerca de 40.000 m2. Já para não falarmos de uma fabulosa biblioteca, de uma imponente basílica e de dois espectaculares carrilhões (sem referir os seus seis órgãos).
Tudo porque o rei, D. João V, ia ser pai, e o ouro não parava de chegar do Brasil.
Estou a falar, claro, do Palácio Nacional de Mafra, ou Convento de Mafra, para os conhecidos.

Já não sei em que ano o visitei pela primeira vez, mas sei que era garoto.
Impressionou-me então a enfermaria e a cama para encerrar os loucos.
Lembro-me também de que, após a visita aos enormes sinos de um dos carrilhões, subi á cobertura. E de espreitar pelo óculo que encima a abobada da basílica. Lá no fundo, passeavam minúsculos os visitantes.

Não sei quantas vezes mais lá voltei, mas sei que foram várias.
A visita não foi sempre igual e o meu polo de interesse também não. A enfermaria deixou de me impressionar tanto como da primeira vez, ao contrário da biblioteca (mais não fosse por ficar a saber que, de noite, vagueiam por ali morcegos a comer a bicharada).
Sei também que, numa das últimas vezes que subi à cobertura, senti pela primeira vez vertigens ao olhar pelo óculo no cimo da abóbada.

Ao longo de todas estas visitas pude verificar a transformação que a vila de Mafra foi sofrendo, bem como, com ela, o destaque dado ao monumento.
Das primeiras vezes o convento impunha-se pela sua monumentalidade, rodeado dos pequenos edifícios da vila provinciana, enquadrado pela frondosa mata do convento e pelos campos agrícolas.
Agora, os bons acessos a Lisboa transformaram esta vila saloia num imenso “dormitório”, fazendo com que o convento surja no meio de prédios e urbanizações. 
Felizmente, para quem se aproxima da vila vindo de norte pela N9, o primeiro vislumbre do convento ainda o apresenta envolto pela tapada, dando-lhe algum enquadramento e imponência.

Mas mesmo sem o destaque de outrora, voltar ao convento é sempre uma sensação agradável. É reencontrar um velho conhecido. E por mais que o lugar nos seja familiar, tem sempre um novo detalhe que se destaca ou um pormenor que nos surpreende. Claro está que desta última vez não foi excepção. 

E quando nos preparávamos para ir embora o convento quis brindar-nos com uma surpresa. A realização de um casamento na basílica deu-nos a possibilidade de assistir ao evento, através da janela reservada aos reis.
Assim, por escassos momentos, tivemos a possibilidade de partilhar com os antigos monarcas o privilégio daquele lugar.


Informação adicional em:

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

O Rádio


Numa longa viagem de carro, o rádio, e com ele a música, é uma necessidade. Mais não seja para nos ir distraindo com a pesquisa de um novo canal, seja ele de música ou de noticias.

Estejamos nós numa animada conversa entre viajantes, deslumbrados com a paisagem à nossa frente, ou sem vontade de dizer nada, o som do rádio como pano de fundo, para além de nos fazer companhia, dá um certo volume ao momento.

Apesar de hoje em dia ser normal um carro vir já equipado com rádio (mais ou menos sofisticado), nem sempre foi assim. Mas mesmo no passado, haver um rádio "a bordo" era uma vantagem. Tenho bem presente a aventura que foi atravessar o Douro, num Fiat 600, e tentar ouvir um programa de rádio com recurso a um pequeno transístor a pilhas. A cada curva do caminho o programa “desaparecia”, obrigando a nova sintonia do emissor. Uma viagem que poderia ter sido monótona e cansativa, acabou por ser agradável e divertida.

Actualmente, mesmo com recurso ao RDS para a sintonia automática da emissão, o rádio continua a ter um papel relevante na ocupação do tempo de viagem. Sobretudo quando a música que passa nos diversos canais nacionais não é do agrado dos ocupantes do carro. Aí começa o jogo da procura de um novo canal, e surgem as rádios locais e regionais, onde os programas e as músicas têm gostos diferentes dos habituais, e que, muitas das vezes, não deixam de nos surpreender e divertir.

Esta situação de busca por novos canais complica-se um pouco mais se estamos num pais estrangeiro.
Para além de não conhecermos as estações de rádio, nem sempre o tipo de programa que encontramos é aquele que gostaríamos.

Se em Espanha falam demasiado para o meu gosto (embora já tivéssemos apanhado, por alguns quilómetros e aparentemente por estarem de férias, uma rádio que só passava música, enquanto no ecrã do RDS passava a frase 'Estamos de Vacas'), em França as estações de rádio são mais semelhantes ás nossas (algumas até com o mesmo nome, caso da RFM ou NRJ), apesar de a música predominante ser francesa ou francófona. Já no Reino Unido os programas de rádio foram, para mim, uma desilusão, com excepção da XFM Scotland, que entretanto fechou, e onde basicamente só passava (boa) música Pop britânica.

Sabendo de antemão que nem sempre vamos encontrar música do nosso agrado, há sempre a possibilidade de levar a “nossa” própria música. Esta opção surgiu quando instalámos no nosso carro um auto-rádio. A partir desse dia passou a ser possível ouvir cassetes (primeiro) ou CDs (mais tarde).
Esta possibilidade veio ainda criar um outro polo de distracção, embora prévio às férias: gravar a “música das férias”. E com o CD nasceu o “disco de férias”.
No entanto estas cassetes ou discos foram criados para uso de último recurso, e para serem ouvidos apenas quando a rádio já não era opção. 

Mas, sobre os “discos de férias”, a rádio tem sempre a vantagem do inesperado e do inusitado. Para além de que nos permite descobrir outros gostos, outras músicas e outros interpretes. E a vantagem de, se conhecemos a língua do pais, podermos ainda ouvir as noticias e ir estando atualizado sobre o que se passa no mundo (foi pela rádio que soubemos, em primeira mão e longe de casa, do incendio do Chiado, em 1988).

Mão amiga deu-me a conhecer este sítio da internet (Drive & Listen).

A sua visualização fez-me relembrar a sensação de conduzir de férias, ao som do rádio.
E p
odemos também ir mudando de sintonia e ouvir várias das rádios locais, durante a viagem.