domingo, 14 de setembro de 2014

A rosa e o vinho

Região do Loire, França - 2002
Da primeiras vezes que fomos de carro de férias para França, várias realidades me fascinaram.
O cuidado extremo na apresentação e limpeza dos espaços, quer públicos, quer privados, foi uma delas.

As povoações estavam todas floridas (umas mais, outras menos) ao ponto destas terem uma classificação do grau de "florimento" (quais estrelas Michelin), que ostentavam na placa toponímica da entrada.
As estradas estavam todas bem marcadas, arranjadas e sinalizadas, e as bermas quase irepreensivelmente limpas. Tudo o que era campo de cultivo estava bem arranjado e ordenado, tendo até os bosques um aspecto muito "certinho".

No meio deste cenário achei quase ser um exagero de ornamentação haver roseiras plantadas no topo das correntezas das vinhas. De qualquer forma achei ser um habito engraçado, uma vez que quase não encontrei vinha nenhuma que não tivesse a sua roseira no topo das filas de videiras.

Os anos foram passando e este "fenómeno" tornou-se, aos meus olhos, uma caracteristica natural do que eu poderia chamar de uma vinha francesa.
No entanto este fenómeno é tudo menos decorativo. Há coisa de uns anos soube a sua verdadeira razão: as roseiras servem de alarme.

Confuso? Também eu fiquei, mas as razões são simples..

Na segunda metade do século XIX as vinhas europeias foram atacadas por uma praga terrível que quase acabou com elas: a filoxera. Para quem não sabe (como eu não sabia), a filoxera é um insecto, oriundo da América, que ataca a vinha pela raiz, fazendo-a murchar até à morte.

Quem ler os jornais da época (ou mesmo posteriores) pode perceber o quão terrível foi esta praga. Provocou a falência de muitos agricultores e contribuiu para a emigração de boa parte deles, nomeadamente de italianos, para a América.

Quando finalmente se percebeu o fenómeno desta praga, percebeu-se também que a filoxera atacava outras plantas, sendo uma delas a roseira. E a razão é simples (e também fascinante para mim, quando o soube): a videira e a rosa são da mesma família.
A "vantagem" da rosa é que é mais fraca, dando rapidamente sinal da presença da filoxera, permitindo assim as pulverizações da vinha, a tempo da sua salvação.

Se para os agricultores a presença das rosas é uma precaução, para o viajante que passa é um bonito e agradável elemento da paisagem. Com a vantagem de, mesmo sem ele saber, lhe poder permitir saborear um bom vinho no final da jornada.



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