Londres, Inglaterra - 2006 |
Para quem parte de viajem, uma questão que se lhe coloca é a de como comunicar com quem não nos acompanhou na viagem mas que, de alguma forma, espera receber noticias nossas.
Quando comecei nestas andanças a forma mais rápida de comunicar com alguém era o telegrama.
Embora não falássemos directamente com o destinatário, tínhamos a certeza de que a mensagem era entregue, e no mais curto espaço de tempo.
Mas os telegramas tinham como problema o de serem caros. Como tal, eram normalmente utilizados em último recurso e para notícias urgentes. Normalmente e infelizmente, más.
Por essa razão nunca foi considerado por nós como meio para dizer que estava tudo bem e que nos estávamos a divertir muito.
No extremo oposto ficava a carta ou melhor ainda, o postal.
Barato, poucas palavras e, como bónus, uma imagem para complementar as palavras. Adicionalmente serviam como um bom pretexto para ficar numa explanada a gozar o descanso enquanto os escrevíamos.
No entanto peca por ser lento. Por vezes mesmo muito lento. Quantas vezes não cheguei eu a casa, vindo de férias, antes do bendito postal chegar ao seu destino.
No meio termo estava o telefone. Não era muito caro e tinha a vantagem de ser imediato e interactivo.
Foi por isso eleito por nós como o meio priveligiado para comunicar com quem nos estava mais próximo. Mas nem sempre o seu uso era fácil..
Nos primórdios das nossas viagens todos os telefones eram fixos. E os telefones públicos dividiam-se em três categorias (por ordem de preferência):
1) As cabines telefónicas (no início quase uma curiosidade, nomeadamente fora dos grandes centros);
2) As estações dos Correios (quando as havia e, de uma forma geral, apenas disponíveis durante as horas de expediente) e
3) Os estabelecimentos (normalmente cafés) cujo telefone tinha acoplado um contador de impulsos, geralmente cobrados a um preço elevado, para justificar o "favor" que nos estavam a fazer.
Ainda nessa altura as ligações telefónicas tinham outras particularidades. Ouviam-se muitos ruídos na linha e, quanto maior a distâncias, mais "longe" ouvíamos o destinatário (sendo, por vezes, quase obrigados a gritar).
Bom, mas pelo facto de termos acesso a um telefone não tínhamos ainda a garantia de conseguirmos falar com a pessoa que pertendiamos. Acontecia por vezes que, quando ligávamos, o destinatário não estava perto do aparelho do outro lado e, por isso, não atendia a chamada.
No entanto eram todas estas condicionantes que davam alguma emoção ao acto de telefonar.
Assim, durante as férias, havia sempre pelo menos um dia em que íamos telefonar. De preferência numa hora em que sabíamos que o destinatário estava do outro lado, quer por lhe conhecermos os hábitos, quer por termos previamente combinado uma hora para o fazer.
Como o horário mais cómodo (e barato) era o nocturno, as cabines telefónicas foram sempre os nossos locais preferidos para telefonar. No entanto traziam outro problema adicional: as moedas.
Para remediar essa questão, durante o dia, íamos coleccionando moedas compatíveis com as cabines a que tínhamos acesso. Mas os possíveis problemas ainda não terminavam aqui. Mesmo com as tão desejadas moedas não tínhamos ainda a garantia de conseguir fazer a ligação. Os telefones também tinham as suas manias.
Por vezes o telefone "comia" a moeda e não fazia a ligação, outras vezes (infelizmente raras) fazia a ligação e recusava-se a ficar com as moedas e, por último, havia a situação em que, recusando-se a "engolir" o dinheiro, o telefone cortava a chamada ao fim de poucos segundos de ligação.
Foi por causa de uma situação como esta última que, entre nós, ficou célebre um telefonema feito, a partir de Viana do Castelo, para casa das nossas mães (uma chamada para cada casa).
Como a cabina se recusava a "engolir" as moedas a conversa foi efectuada no intervalo de tempo que mediava a ligação e o seu corte automático. Obviamente a conversa só foi possível com muitas (muitas mesmo) remarcações do número do destino, num jogo hilariante com a cabina.
Quem não achou muita piada à situação foram os futuros utilizadores dessa mesma cabina.
Só nos apercebemos de que havia alguém à espera para telefonar quando abrimos a porta da cabine, para sair. E foi com cara de poucos amigos que nos olharam quando finalmente saímos, ainda a rir, possivelmente julgando que a nossa atitude se devia a uma falta de dinheiro e não à falta de colaboração do aparelho.
Com o avanço tecnológico começaram a surgir cabines que devolviam troco e, pasme-se, cartões pré-pagos (vulgo crédifones) que evitavam a necessidade de "catar" moedas durante o dia, para poder telefonar à noite. Claro que, depois de gastos, os cartões também permitiram uma interessante colecção.
Com o advento do telemóvel (e mais tarde do roaming) o problema de encontrar uma cabine para telefonar foi desaparecendo, sendo gradualmente substituído pelo problema de "encontrar" um local com rede.
No entanto, no início, com o custo da comunicação elevado, continuamos a preferir utilizar as cabines que íamos encontrando pelo caminho (aumentando a já referida colecção de cartões).
A partir do momento em que os custos das comunicações baixaram drasticamente e a Internet e as ligações wi-fi se generalizaram, o contacto com quem quer que seja tornou-se quase uma 'não preocupação'.
Hoje é basicamente indiferente se nos encontramos na praia, em Lisboa, Londres ou algures na Finlândia.
Em compensação as nossas outrora tão desejadas cabines telefónicas vão desaparecendo da paisagem urbana sem que notemos a sua falta.
Num destes dias passei por alguém que falava num telefone público, situação que estranhei por inusitada. O pior foi ser num local por onde passo quase todos os dias e não me ter apercebido sequer que aquela, agora velha e decadente, cabine telefónica ali se encontrava.
Agora, quando reparo num telefone público serve-me apenas para lembrar, sem nostalgia, das muitas peripécias por que passei, por causa de um daqueles aparelhos.
Sem comentários:
Enviar um comentário