Speedy's, Londres - 2014 |
Perdoem-me os que não são apreciadores ou conhecedores da série televisiva da BBC "Sherlock" mas ter estado no Speedy's e não referir o lugar seria um crime.
Para quem não está familiarizado com a série poderei dizer que esta é uma fabulosa adaptação das obras originais de Conan Doyle, transpostas para os nossos tempos.
Sherlock é um génio convencido e mimado, Watson um traumatizado veterano do Afeganistão e Moriarty um génio demente. Todas as interpretações são excelentes, suportadas por um script muito bem elaborado e uma realização desconcertante.
Apesar de terem sido realizados apenas dez episódios, três por temporada e um especial de Natal, foram os suficientes para criar um grupo desmesurado de fãs e uma venda invejável de memorabilia.
Curiosamente, quando pela primeira vez vi na televisão o anuncio à série, a figura de Sherlock pareceu-me excessiva. Um detective super convencido, pedante e que insultava toda a gente que o rodeava. Não me atraiu e, como tal, não vi nenhum dos episódios da série.
Quis o destino que, numa noite de pasmaceira em que não havia nada de interesse na televisão, o zapping me fizesse cruzar com um dos episódios da série, já a meio.
Como não havia mais nada para ver, perguntei-me a mim mesmo " e porque não ver o que isto é?"
E foi a minha desgraça. No final do episódio estava rendido.
Mas o que é que tudo isto tem que ver com o Speedy's?
Na série, as filmagens da casa de Sherlock não se realizaram em Baker Street, rua muito movimentada, mas sim na pacata North Gower Street. Junto ao Speedy's.
Apesar do Speedy's já existir antes da série televisiva, foi com ela que ganhou notoriedade, passando de um desconhecido café de bairro ao local de romaria e culto dos fãs da série.
E foi assim que, numa calma manhã de Agosto, perto das 10 da manhã, emergimos da estação de metro de Euston, à procura do dito cujo café. De mapa na mão, lá fomos entrando no sossegado bairro.
Ao fim de alguns metros, ao virar de uma esquina, ali estava ele. Um café de bairro, pacato, com duas mesas na esplanada, na altura ocupadas por alguns operários que faziam a sua pausa, para beber um café.
Contemplamos o exterior e decidimos, num acto corajoso, entrar e beber também nós um café (corajoso porque, de uma forma geral, o café em Londres é mau).
Ao abrirmos a porta apercebemo-nos da pequenez do lugar. Nas paredes fotografias das filmagens, numa decoração sóbria e despretenciosa, confirmavam a sua ligação à série.
O café estava sossegado mas cheio. Maioritariamente de fãs, uma vez que apenas duas ou três pessoas tinham ar de serem habitantes do bairro, Os restantes clientes destoavam completamente.
Face à lotação esgotada da sala, quando uma simpática empregada nos perguntou o que desejávamos, pedimos três "moka" para levar (o chocolate ameniza o gosto)
Já cá fora, sentados num muro junto ao café, a bebericar as nossas bebidas, fomo-nos apercebendo da silenciosa romaria que ia decorrendo na rua.
Tal como nós, notórios fãs, sós ou em grupo, de mala de viagem a rasto ou mochila às costas, iam cumprindo o mesmo ritual (não necessariamente por esta ordem): uma 'inspeção' ao lugar, uma fotografia ao café, uma fotografia frente ao café ou sentados na esplanada, uma volta pelas redondezas, uma espreitadela ao interior... enfim, tudo aquilo que um fã faz quando se encontra num lugar que, reconhecidamente, pertence ao universo da sua devoção.
Curiosamente sempre num 'registo' discreto, respeitoso, diria mesmo religioso, de quem não quer interromper nada mas apenas "viver" o lugar.
Esgotada a bebida e saboreado o lugar, seguimos o nosso caminho de regresso ao metro. Não sem antes notar uma pequena curiosidade: a casa que seria a morada de Sherlock na série, estava à venda.
Decididamente Holmes já não morava ali.
Sherlockology - Speedy's cafeSherlock na Wikipedia
I Believe in Sherlock Holmes
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