Terras altas - Escócia - 2006 |
Há quem não goste, há quem não queira e há quem não possa. Finalmente há os que gostam e vão, como podem. Falo de viajar. De ir.
Durante muitos anos sonhei em conhecer novos lugares ou, simplesmente, ver in loco os lugares de que apenas
conhecia fotografias ou documentários (a preto e branco, porque essas eram as
cores da televisão da altura). As distâncias eram lentas ou caras, e as
fronteiras difíceis de transpôr.
Durante muitos anos as minhas idas foram a lugares “perto”. No entanto
todas elas me trouxeram sensações novas, agradáveis e, acima de tudo,
enriquecedoras.
Até aos meus 18 anos os meus limites geográficos foram curtos: Palmela a
Sul, Coimbra a Norte e Tomar a Este. Mesmo assim um privilegiado comparado com
outros colegas. É certo que também tinha colegas que iam para a Serra da
Estrela, ou o Algarve, ou até a Espanha, mas esses eram a excepção (que me causavam
alguma inveja, mas também os que me faziam sonhar com viagens). Havia ainda os que
iam à terra da familia, onde quer que ela fosse. Mas estes não contavam porque
não traziam histórias interessantes para contar.
Com o 25 de Abril a informação passou a circular mais. O conhecimento do
mundo aumentou, assim como a consciência do País. O sonho do meu irmão (e
também o meu) era fazer uma viagem de Interrail,
Europa fora. Mas, por muito em conta que o bilhete fosse, era sempre caro. E o
limite de idade “baixo” para as nossas aspirações (mesmo quando este foi
aumentado).
Algum dinheiro ganho em trabalhos de Verão e uma idade mais adulta, permitiram
incursões mais arrojadas país fora. Da forma mais económica possível, claro. De
preferência à boleia (na altura ainda era seguro), embora o comboio ou a
camioneta pudessem ser opção (especialmente depois de se ter estado onze horas
de polegar esticado, num mesmo sítio, sem conseguir boleia).
Mais tarde, com um rendimento regular, melhores meios e a constante vontade
de ir, fui fazendo com que esse horizonte se fosse alargando cada vez mais, não
tanto, nem ao ritmo de que gostaria, mas já de uma forma irreversível.
Já estive em alguns dos sítios com que sonhava, outros de que nem conhecia
a existência. No entanto a lista dos lugares desejados ainda mantêm boa parte
dos iniciais, agora acrescida de mais uns quantos.
Não sei quantos lugares mais conseguirei visitar, mas já não me posso
queixar. Já estive e vi mais do que imaginei poder, na minha juventude. Agora,
através da escrita e das fotografias, tento ir revisitando esses lugares e
esses momentos, mantendo sempre esta vontade de ir.
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