quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Voar


Nuvens sobre a Grã-Bretanha - 2010

Quando era pequena vivia numa casa atormentada regularmente pelo troar dos aviões. 
Das traseiras do meu prédio avistava-se o Tejo e os terrenos que mais tarde vieram a ser a Expo-98. Quase se avistava a Portela. Os aviões passavam ali mesmo por cima, rentinhos ao telhado, e eu corria ao terraço para os espreitar. Vivia-se em pleno a aventura da conquista espacial e um dos meus primeiros heróis foi um astronauta, não o do anúncio, mas o Yuri Gagarine. Um dos meus primeiros sonhos foi ser astronauta e viajar no espaço. 
Era assim que eu juntava as minhas palavras favoritas - viajar no espaço.

Comecei a viajar razoavelmente cedo para a época em que cresci - corri o norte e o sul de Portugal; aos sete anos fui ao norte de Espanha e ao sul de França. De camioneta, claro! Aos onze fui à Madeira - de barco, claro! Poucos anos depois viajava para Paris para passar um mês.  
O espaço estava longe ainda. Mas viajar estava mais cada vez mais perto. E tornou-se uma paixão. 
Talvez o único motivo porque gostaria de ser milionária era para poder viajar a meu prazer, talvez mesmo comprar uma passagem até à Estação Espacial para ver a Terra lá de cima.

Viajar de avião foi sempre um sonho, parente pobre mas possível da viagem no espaço. 
Viajei pela primeira vez há poucos anos numa curta viagem até Paris, e ver o mundo acima das nuvens foi uma descoberta extraordinária. Estava um dia claro, de céu azul e nuvens brancas, e tudo tinha a luminosidade e o brilho de um mundo encantado: as eólicas de Montejunto, o desenho recortado da costa norte de Espanha, as pequenas ilhas ao largo de França, o azul profundo do mar e a manta recortada dos campos. Depois Paris, a surgir de lado, como se nascesse do horizonte. 

Ao contrário de grande parte das pessoas que conheço, adoro entrar num avião. A sensação da subida, a visão das nuvens, do céu, dos campos ou do mar, são sempre um fascínio que me remete para a essência da viagem: ver o mundo de outra perspetiva, descobrir novos lugares, novas paisagens.

Não me posso queixar. Tenho viajado por sítios maravilhosos e tenho os olhos cheios de visões belíssimas. Mas não me deixo enganar: ainda tenho muito espaço nos olhos e na alma para encher com outros lugares.
Assim os aviões me levem até lá.



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