domingo, 9 de março de 2014

Os patos do Quercy

Quercy - França - 1996

Por várias vezes as nossas férias foram passadas em França e muitas delas pela região do Quercy.

Região eminentemente rural, é rica em feiras ou mercados onde os produtos regionais são vendidos a preços muito convidativos.
Desses produtos destaca-se o fois gras, de pato ou ganso, caracteristico da região.

A importância desta produção é tal que faz com que os patos sejam um ex-libris da região. Não só grande parte da gastonomia local é rica em pratos à base de pato (há que aproveitar o que sobra do bicho, depois de retirado o figado), como também muita da publicidade se centra no fabrico e nos fabricantes do fois gras, algo semelhante ao vinho do Porto, na região do Douro.
Assim, qual visita a uma vinha, pode-se visitar os patos e, em espacial a gavage.

Para quem como eu apenas conhecia as duas realidades separadas (por um lado os patos como animal, por outro o paté como recheio de uma latinha), todo este mundo da criação de patos para paté passou a ser um novo ponto de curiosidade.

Ao contrário dos patos de aviário que todos nós conhecemos dos supermercados, os patos para paté vivem em belos prados onde são pastorados por belas pastoras (a acreditar nos anúncios e nas histórias infantis), até serem transformados em paté e mais alguns derivados (do tipo pato assado, etc).

Como quebra de rotina na vida idiílica destas aves, uma vez por mês, têm um estagio semanal onde se processa a gavage.
Para quem não sabe (como era o meu caso) a gavage é um processo de sobrealimentação forçada do bicho, de forma a provocar-lhe o engordar do figado.
Ao pato é enfiado na boca um funil com uma espécie de "Black & Decker" que empurra o milho goela abaixo. Esse momento, em muitas quintas, é assistível, havendo para isso hora marcada, propagandeada nas estradas.

Felizmente nunca assisti ao processo.
Não porque não tenha tentado mas porque, sorte a minha, cheguei tarde demais. Este atraso fez com que visitasse o 'pós gavage': capoeiras com paredes de ar condicionado (o processo provoca febres altas e convém que os patos não morram) e um bando de patos estáticos, quase inertes, de boca aberta.
Este cenário e a descrição do processo demoveram-me de ver o espectáculo em si.

Claro está que não deixei de comer o bom do paté. No entanto prefiro ficar apenas com a imagem idílica dos prados verdejantes cheios de patos.
Já a imagem dos patos depois da gavage, não a consegui nunca esquecer. Assola-me sempre o espirito, naquelas ocasiões em que como demais e fico enfartado.


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