M1 direcção Leeds, Grã-Bretanha - 2006 |
Ao sairmos dos nossos "domínios" tudo se começa modificar: as pronuncias, a gastronomia, a paisagem ...
Já quando passamos para outro país as mudanças são ainda mais claras, começando, obviamente, pela língua,
Pode-se dizer que o contacto com as diferenças, para além de alargar os nossos horizontes, marca o nosso quotidiano, fazendo com que não volte a ser o mesmo.
No meio de tanta mudança, existem no entanto coisas que consideramos normalizadas, imutáveis. Coisas que é quase impensável serem de outra forma. Mas que, de facto, o podem ser.
É nesta categoria que se enquadra o sentido da condução, a chamada "mão". Na Grã-Bretanha, aquilo que para nós é uma aberração, uma excêntricidade, enfim um perigo, é para os britânicos a normalidade do dia a dia tornando a nossa realidade excêntrica. Eles conduzem pelo "outro lado".
Da primeira vez que estive em Londres aconteceram-me as peripécias clássicas de quem lá vai: olhar para o lado errado na passadeira (e descobrir que o trânsito está todo do outro lado, parado à minha espera) ou apanhar o autocarro no sentido contrário ao do meu destino.
Mas a coisa fica um pouco mais complicada quando conduzimos neste novo paradigma. Quando nos decidimos a aventurar de carro pela Grã-Bretanha veio-me logo à lembrança a anedota do continental (a nacionalidade varia de acordo com quem conta a piada) que se aventurou pelas autoestradas britânicas e que ouve na rádio o locutor a avisar todos os automobilistas de que havia um carro a circular em contramão. O turista, em tom de desabafo, diz para a mulher "Um condutor em contramão? Estão todos!".
Mas, chegada a hora da verdade, e para minimizar as dificuldades da aventura, decidimos alugar um carro "autóctone", com caixa automática. Na empresa de aluguer, em conversa com a senhora que nos atendia, referimos que, para nós, o sentido da circulação já era um pouco confuso e que gerir as mudanças com a mão esquerda ia torná-lo ainda mais complicado. Rindo-se, a senhora disse-nos que não percebia o problema, uma vez que o fazia normalmente todos os dias.
No entanto esta pequena alteração não se esgota apenas na caixa de velocidades. A lição seguinte na "condução à esquerda para Tótos" é de que o volante está à direita, naquilo que para nós é o lugar do pendura. Ou seja, ao abrir a porta do condutor, descobrimos que temos de contornar o carro e sentarmo-nos do outro lado.
Depois vêm os primeiros metros de condução, ainda no parque de estacionamento, para nós do lado certo mas, para os britânicos, claramente em contramão.
Tendo acertado com o lado correcto da estrada, começam as verdadeiras dificuldades: as rotundas (mesmo assim menos complicadas do que aquilo que me tinham dito) e os entroncamentos (estes sim, verdadeiras dores de cabeça porque temos que "adivinhar" qual a faixa certa da estrada).
Está nesta categoria a pequena peripécia que me aconteceu num entroncamento em Inverness. Ao arrancar num semáforo, virei à direita, ficando frente a frente com um carro da polícia (com os ocupantes possivelmente a suspirar e a pensar "turistas...") na "minha" faixa. Claro está que a marcha atrás funciona também nos carros de caixa automática, permitindo-me retomar a posição inicial no semáforo. No verde seguinte lá acertei com a faixa correcta.
Apesar da Manela, que seguia no agora lugar do "pendura", ter ficado com mais cabelos brancos e, talvez, alguns problemas cardíacos ("Olha o passeio!!"), o que é facto é que, quando entreguei o carro no final da viagem, me sentia pronto para reiniciar a viagem, agora como um qualquer nativo britânico, embora, claro, com caixa automática.
No final das férias, já no aconchego da "normalidade", todas estas peripécias são belas histórias para contar aos amigos e familiares. No entanto, na minha primeira viagem de carro após as férias, ao virar para a rua da casa da minha mãe dou comigo na faixa esquerda, agora sim em contramão. Felizmente não havia trânsito, o que me permitiu mudar de faixa e seguir o meu caminho.
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