Ploughman's Lunch, Londres - 2010 |
Já aqui se escreveu sobre café e sobre cerveja, mas sobre
aquilo que se come, nada!
E o facto é que comer, experimentar cheiros e sabores, é um
dos grandes prazeres da viagem.
Já comemos um pouco em todo o lado – restaurantes, cervejarias,
cafés, bares, comboios e barcos, jardins e praças, sentados em cadeiras
confortáveis e em degraus de escadas, na relva ou no chão. Até num cemitério.
Mas a verdadeira atmosfera está nos mercados.
Os mercados são sítios maravilhosos, cheios de gente, de cor
e de cheiros, que nos despertam os sentidos e nos deixam na memória uma mistura
de recordações e sensações. Houve o mercado de Cardiff onde comprámos uns Cornish
pasties de lamber os dedos, e que comemos sentados em bancos de pedra no
cemitério da igreja; o mercado de Salzburgo, onde comemos em pé, com pequenos
garfos de madeira, as melhores salsichas de sempre; o de Nuremberga, onde comi
as melhores azeitonas que se possa imaginar; o de Helsínquia, onde almoçámos
salmão e rena seguidos de morangos doces da Lapónia; o de Notting Hill, onde
comemos algo que ainda hoje estamos para adivinhar...
Para além destes, houve inúmeros outros momentos cheios de
sabor: os fish and chips de rua, a
escaldar-nos as mãos num fim de tarde frio e nevoento em Salisbury; os jantares
extraordinários no mercado gastronómico do Festival de Música e Ópera em Viena,
verdadeiro festival de sons e aromas; os cabecou
(queijinhos de cabra) levemente grelhados, numa esplanada em Rocamadour; a
pequena loja num cais no sul da Dinamarca, onde comemos peixes fumados
deliciosos; os belíssimos pratos e pinchos no Camilo, em Santiago de Compostela,
e as saladas belíssimas no Fazer, em
Helsínquia; o monumental ploughman’s
lunch num pub em Edinburgo; as galettes e a cidra em Saint-Malo.
Há ainda os restaurantes e cafetarias de museus e
bibliotecas. Guardamos deliciosas recordações do Museu Nacional em Copenhaga,
do Arctic Centre, em Rovaniemi, do Observatório Astronómico de Helsínquia, do
Storytelling Centre em Edinburgo.
E há ainda todas as paragens da viagem e os pequenos
restaurantes suspensos no tempo, com bancos largos dos anos 50 e música em
surdina; as padarias e pastelarias, com montras que parecem dizer-nos “come-me!”;
a estação de serviço em Leeds, onde comprámos fora de horas um jantar
improvisado de sandes, num suceder de incidentes hilariantes; e os pubs e inns, em pequenos lugares algures em Inglaterra, onde os pratos nos
surpreenderam pelo sabor inesperado e requintado.
Ah! Também há a comida servida no avião... mas é melhor não
falarmos nisso.
De há uns anos para cá habituámo-nos a fotografar os pratos
que nos servem: em muitos casos a apresentação cuidada e a variedade dos ingredientes
são uma constante, mesmo nos pequenos restaurantes, e, se os olhos também
comem, guardemos para sempre a recordação do momento.
E juro que quando revejo certos pratos lhes sinto ainda o
cheiro e o sabor e, sem querer, dou comigo a desejar repetir o momento.
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