domingo, 20 de julho de 2014

O saber do vinho

Recepção das caves da Murganheira, Varosa, Lamego - 2012
Se há coisas agradáveis numas férias (para além de descansar, claro) é ter a oportunidade de aprender algo de novo sobre a realidade que nos rodeia.
Por essa razão, sempre que posso, desloco-me para onde possa visitar monumentos, igrejas, museus ou qualquer outro lugar de interesse.

É nesta última categoria que classifico as adegas ou caves de vinho. São lugares interessantes, onde normalmente se junta o útil ao agradável, ou seja, aprende-se algo sobre o vinho enquanto se degusta o objecto da nossa aprendisagem. E por vezes somos ainda brindados com mais alguma sabedoria extra.

Nas minhas passagens pela região de Lamego, sempre que se proporciona, não deixo de visitar as caves de espumante que por ali existem, mais particularmente as caves da Murganheira.

Das primeiras vezes que as visitei assisti ao processo artesanal da produção e aprendi algumas curiosidades sobre a feitura do espumante.
Anos mais tarde voltei lá. Agora, associada a uma multinacional, a produção aumentou pelo que é visível uma maior automatização dos processos.
No entanto, a visita continua a ser um momento agradável (onde, claro, se incluem as já referidas provas).

Momento interessante na visita é a explicação do método de abertura da garrafa, rolhada com uma cápsula, e o retirar do último depósito gerado no processo de fermentação.
Originalmente feito de forma manual, com recurso a um "abre cápsulas" e à mestria de quem o maneja ("espectáculo" a que ainda tive o prazer de assistir nas minhas primeiras visitas), é agora feito de forma mais automática, recorrendo à congelação do gargalo.

Estando a linha de produção parada, a guia explicou o processo, a razão do mesmo e a consequência do reatestar da garrafa, "transformando" o seu conteúdo em espumante bruto, meio seco ou doce.

Não sei se foi por ignorância pura, se para impressionar a sua companhia ou se por já ter feito várias provas, um dos meus "colegas" de visita destacou-se e perguntou, em tom de afirmação: "Mas também há quem faça essa operação utilizando uma espada, não é?".

Num flash veio-me à cabeça a imagem de um operário de espada na mão, a cortar os gargalos das garrafas.
Este meu pensamento foi interrompido pela voz incrédula e titubeante da guia, temendo ter percebido mal a questão: "Com uma espada? Mas isso danificava a garrafa, impedindo-a de ser novamente rolhada".
De facto, bastaria ter pensado um pouco sobre o processo para concluir que a pergunta era despropositada, raiando mesmo o risível.

Curiosamente o autor da pergunta ouviu a resposta sem qualquer vislumbre de arrependimento na sua falta de raciocínio. Enfim, nada que mais um pouco de espumante não fizesse esquecer.
E se é verdade que confessar ignorância ou desconhecimento não envergonha ninguém, também é verdade que exibir essa mesma ignorância não abona nada a quem o faz.

E com este meu ultimo "pensamento" arrumo quem possa pensar que eu apenas visito uma adega para a degustação dos vinhos. Este pequeno episódio prova-nos que, juntamente com uma flute de espumante, podemos sempre aprender mais alguma coisa sobre a natureza humana.



Informação adicional em:
Caves da Murganheira (passe a publicidade)

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