Mercado da Ribeira, Lisboa . 2014 |
Como vamos tendo cada vez menos horas disponíveis, os lugares com prateleiras cheias de produtos apelativamente embalados, disponíveis quase 24 horas por dia e onde não temos necessidade de falar com ninguém (excepto, talvez, para perguntar onde está um determinado produto), vão-nos seduzindo e ocupando o nosso quotidiano..
É assim que os mini, super e sobretudo hiperrmercados vão entrando no nosso dia-a-dia, matando e tomando o lugar dos simplesmente (e antigos) mercados de bairro.
Aos poucos, estes vão perdendo dimensão, ficando entregues apenas aos seus mais antigos e fiéis clientes. E há medida que os seus "velhos" clientes vão desaparecendo, os mercados vão sucumbindo com eles.
Do que me recordo da minha última passagem pelo Mercado da Ribeira, é que o espaço estava um pouco degradado, mas que ia cumprindo o seu papel.
Tal como tantos outros mercados tradicionais, convenci-me que a Ribeira não iria ser uma excepção, tendo também ela como destino uma lenta e agonizante extinção. No entanto, uma noticia de jornal fez-me criar alguma expectativa contrária.
Após obras de conservação, parte do mercado foi transformado num espaço de restauração (para além, claro, do já famosos cacau).
Após obras de conservação, parte do mercado foi transformado num espaço de restauração (para além, claro, do já famosos cacau).
E foi assim que, num dos sábados seguintes, decidimos ir lá almoçar.
Quem teve a ideia e operou a transformação do espaço (sinceramente desconheço o processo), fez, no geral e em minha opinião, um bom trabalho.
Manteve numa das naves do edifício a sua função original de mercado, enquanto que a outra foi transformada num espaço dedicado à restauração e ao lazer.
Do lado da restauração, as antigas lojas do mercado, que rodeiam toda a nave, foram concessionadas a restaurantes. A diversidade destes pequenos espaços permite uma variedade e amplitude de escolha de pratos, que vão desde o puramente vegetariano ao ostensivamente carnívoro.
No meio do pavilhão (barulhento, como compete a um mercado) foram colocadas umas mesas corridas, de madeira clara, onde nos podemos sentar, partilhando, de mdo informal, a refeição, com todos os outros clientes deste espaço.
Fosse por ser fim de semana, fosse por estar na "berra", o espaço estava cheio, o que nos obrigou a deambular algum tempo pelas mesas à procura de dois lugares frente a frente para nos sentarmos.
Quando finalmente me vi sentado, frente a um belíssimo hamburguer de salmão, olhei à volta para apreciar o lugar e pensar sobre ele.
O espaço, "vintage" QB, é agradável. A oferta de opções de refeição muito variada. Os clientes muito heterogéneos, havendo-os de todas as idades e nacionalidades. Enfim, tem tudo para ser uma aposta ganhadora.
No entanto, apesar de todos estes pontos positivos, porque é que fiquei sem grande vontade de voltar? A resposta é simples e lamento ter de a dar: os clientes eram maioritariamente portugueses.
No entanto, apesar de todos estes pontos positivos, porque é que fiquei sem grande vontade de voltar? A resposta é simples e lamento ter de a dar: os clientes eram maioritariamente portugueses.
Não que eu tenha algo contra essa nacionalidade, até porque eu sou um deles. O que me desagrada é o velho e enraizado (mau) hábito de reservar um lugar, horas a fio se necessário, para só depois, calmamente, ir procurar e escolher o que comer.
De facto, ao olhar para o espaço das mesas, estas estavam cheias. Mas sobretudo de pessoas à espera e a reservar vários lugares nelas. Em volta, quase outros tantos, andavam a passear os tabuleiros na esperança de encontrar um lugar desocupado, tal como já me acontecera a mim.
E é esta procura, stressante, com a noção de que o almoço está a arrefecer, este pedir quase por favor para me poder sentar, que não me agrada no lugar.
Infelizmente enquanto me lembrar desta sensação, não vou ter grande vontade de lá voltar.
Espero, sinceramente, que o sucesso desta ideia não seja a sua perdição.
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