domingo, 5 de outubro de 2014

Memória

Torre de Londres, Londres - 2014
Sempre fui muito critico com as chamadas “instalações".
Das muitas que já tive oportunidade de ver ao longo dos anos, poucas foram aquelas de que eu tenha gostado, reconhecido o sentido, ou impressionado.
Na minha perspectiva não é só o facto de se descontextualizar um objecto, reestruturar um conjunto de objectos, ou recriar um espaço, que me faz considerar só por si, que isso seja arte ou, no minimo, uma provocação. No entanto há honrosas excepções que me fazem considerar e dar credibilidade ao género,

Neste ano de 2014 assinalam-se os 100 anos do início daquela a que se viria a chamar "A Grande Guerra".
Infelizmente todos nós conhecemos o horror que a mesma foi, bem como as consequências que ela teve.

Para lembrar a efeméride, um pouco por toda a parte, nomeadamente na Europa, organizaram-se diversos eventos e cerimónias solenes.
De todos estes acontecimentos nenhum me marcou especialmente. Apenas ficou no fundo da minha memõria que a guerra tinha começado, fazia agora cem anos.

Mas a arte tem destas coisas. No momento em que menos esperava, a lembrança desta guerra e das vitmas que ela causou, cairam-me em cima, da forma mais estranha que eu poderia imaginar.
Neste verão, ao chegar junto da Torre de Londres fui surpreendido com um espectacular memorial aos soldados mortos na Grande Guerra.
Uma instalação, da autoria de  Paul Cummins, cercou a Torre de Londres com 888.246 papoilas vermelhas, em cerâmica. Uma por cada soldado britânico morto durante a guerra.

O contraste entre o imenso campo florido e a estrutura militar (também ela de má memória) onde as flores foram “plantadas”, tornava o conjunto um misto de dramático, estranho e ao mesmo tempo fascinante.

Mesmo que se desconheça a intenção ou o significado da obra, a visão desta mancha vermelha que “escorre” das muralhas é arrebatadora, sendo impossível ficar-lhe indiferente.
Para o provar bastava o facto da multidão de visitantes que, como eu, olhava o fosso florido, se ter mantido num silêncio ou num sussurro quase religioso, enquanto contemplava a obra.

É face a obras como esta que me reconcilio com as ditas "instalações".

Ah! Apenas como curiosidade: a esta instalação o autor deu o nome de "Blood Swept Lands and Seas of Red" (o sangue cobriu as terras e os mares de vermelho). Mas ter este ou outro nome não altera em nada o impacto da sua visão.


Informação adicional em:
WW1 UK Events
poppies.hrp.org.uk
A Primeira Guerra Mundial - Wikipedia

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