O facto é que não é dia 31 de dezembro e, na verdade, a multidão que nos cerca não está ali para celebrar a entrada de um Novo Ano, está ali para celebrar o Hogmanay.
Nós também...
Estamos em Edinburgo, com um cenário que conhecemos de cor, mas que agora está pintado de branco. Nevou todo o dia, e as casas das encostas parecem-se ainda mais com as casas encantadas de um conto de fadas.
É noite cerrada, está um frio de gelo, mas à nossa volta a multidão está a engrossar, o entusiasmo está a subir rapidamente, e a alegria é contangiante. Escoceses ou não, todos estamos ali para participar na caminhada que nos levará até ao Novo Ano. Os archotes, entregues à entrada, já estão nas mãos dos participantes, os desconhecidos à nossa volta já encetaram conversa conosco, e a multidão já se perde de vista. A atmosfera é de festa, ruidosa e alegre.
De repente, o ruído baixa - os archotes vão ser acesos.
O primeiro grupo na frente acende os seus archotes nas enormes "taças" de fogo, e logo a seguir acende os archotes da fila de trás. E, como um ritual de partilha, assim é, sucessivamente, até que toda a multidão tenha os seus archotes acesos. O ruído baixou substancialmente e, quando nos pomos em marcha, o ruído das vozes é substituído pelo ruído dos passos. Há um silêncio extraordinário, partilhado por todos os que vêm o desfile, como se todos partilhassemos os mesmos pensamentos e os mesmos desejos. O cortejo de archotes desce a Royal Mile em direção a Holyrood Park.
Do barulho da espera passa-se a um silêncio emotivo, em que tomamos consciência da multidão de que fazemos parte, do ruído dos passos que enche a estrada, e da imensidão dos archotes.
Poderiamos pensar que era um ato religioso, e talvez o fosse, mas à cabeça da multidão há um enorme grupo de Vikings a preceito, que comandam o passo e o percurso. A imensa planície aos pés do Arthur's Seat está completamente cheia e a visão dos archotes deixa-nos sem palavras.
Quando chegamos, somos orientados para os espaços livres para que todos possam ter um lugar de onde ver o palco. A multidão continua a chegar e o cortejo parece não ter fim. E, de repente, uma banda surge a tocar "I'm Gonna Be (500 Miles)" dos Proclaimers. A canção é considerada como o "Hino informal da Escócia", e há quem cante, quem bata palmas, há foguetes e fogo de artifício, e abraços com votos de bom ano.
A festa chegou ao fim - o ano também está a chegar.
Só nos falta uma taça de champanhe ou um belo pint de cerveja escocesa para gritarmos em coro "Feliz Ano Novo!".