sábado, 5 de abril de 2014

As grandes cidades

Paris vista dos armazens Lafayette - França - 2005

Dizer que conheço uma grande cidade é algo que dificilmente poderei fazer. Nem mesmo Lisboa, onde já vivi alguns anos, julgo que poderei dizer que conheço.

Pode-se dizer que já estive em algumas ´grandes cidades' e que já vi grande parte dos seus pontos turisticos mais conhecidos. Mas se as quero conhecer, de facto, parto logo com várias desvantagens.
Senão vejamos:
  1. São grandes (a sua dimensão torna à partida dificil o nosso propósito);
  2. Vamos lá normalmente no Verão (ou seja, quando grande parte dos habitantes locais foram de férias, tendo sido substituídos por turistas);
  3. O tempo de permanência é limitado;
  4. Temos como primeiro objectivo ver os "ex libris", o que nos rouba boa parte do tempo (tem que se começar por qualquer lado e depois não estamos predispostos a ouvir aqueles comentários jucosos do tipo "então foste ao Egipto e não viste as pirâmides?");
  5. Normalmente têm pelo menos um museu enorme e que é considerado imperdível (e lá se vai mais um dia);
  6. Há ainda as compras para nós, a familia e os amigos (caso tenha ainda sobrado algum dinheiro);
  7. E, que diabo, gozar um pouco o lugar.

A vantagem de se voltar a uma cidade, mesmo que depois de alguns anos, é que podemos sempre conhecer mais um pouco dela, embora também tenham sempre construído mais qualquer coisa que deveremos ter de visitar.

Independentemente de toda a preparação que tenhamos feito, a menos que estejamos com alguém de lá, o que é um facto é que a verdadeira Cidade continua-nos vedada e escondida. Por isso, sempre que nos cruzamos com um pouco dessa Cidade, temos uma sensação estranha de descoberta.

Exemplo dessa sensação passou-se comigo em Paris.
Apesar de já por lá ter estado ou passado algumas vezes e nas mais diversas circunstâncias, é uma cidade que continuo a conhecer muito mal.

Em 2005, por razões várias, tivemos apenas alguns dias disponíveis para férias. Após diversas hipóteses o destino recaiu sobre Paris. Reservada estadia e viagem, na data definida lá fomos nós até à 'Cidade Luz'.
Paralelamente a este facto, acontece que a minha filha tinha assinado a revista de banda desenhada "Spirou", assinatura essa que estava a expirar e que não havia forma de conseguirmos renovar.

Em conversa caseira levantou-se a hipótese de, uma vez em Paris e sem grande programa para cumprir, podermos procurar as instalações da revista e tentar saber como, ou mesmo renovar, a referida assinatura.

E assim aconteceu. Numa das tardes em que não tinhamos nada previsto, decidimos ir ao encontro da referida representação. Primeiro vimos qual a morada, depois, no mapa, onde é que a rua se situava e, por fim, como lá chegar. Identificado o destino fomos à aventura.

À saída do metro deparámo-nos com um cenário inesperado. Um bairro típico francês, com ruas não muito largas, onde as pessoas que circulavam na rua não eram de todo turistas (os únicos com algum aspecto de turista eramos nós). Ruas menos arranjadas e prédios mais gastos do que aqueles por onde normalmente passeavamos, enfim uma imagem digna de um livro de Simenon. Uma Paris popular, esquecida do grande centro, mas com vida própria.

No retorno, o metro trouxe-nos de volta à cidade larga e majestosa, carregada de turistas.

Na realidade não conseguimos renovar a assinatura do "Spirou" ("tem de contactar com o departamento em Bruxelas"), mas esta meia hora mostrou-nos uma Paris diferente, de bairro, e que nos ficou viva na memória.


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