segunda-feira, 21 de abril de 2014

Viking Dreams


Viking Ship Museum, Roskilde, Dinamarca - 2009

Quando era pequena  - e mesmo já não tão pequena - tinha uma paixão pelos Vikings.
Imaginava-os altos e louros, de olhos imensamente azuis, temíveis, cheios de força e energia, em busca de outras terras, em barcos de uma beleza e elegância extraordinárias. As histórias de saques e assaltos violentos punham-me algumas dúvidas na alma, mas enfim, nos séculos em que tinham vivido, esses episódios eram o "pão nosso de cada dia".

Nunca desapareceu por completo, essa paixão.
A História mostrou-me outros aspetos da cultura viking: a beleza dos ornamentos e das jóias, o papel das mulheres na sociedade, a aventura e as descobertas para além dos mares conhecidos. Uma cultura que produz beleza e permite que as mulheres ocupem um lugar importante na família e na sociedade, não pode ser tão 'primitiva' e tão violenta como os cronistas afirmaram. Claro que pode. A conquista de território e a afirmação de um povo têm passado invariavelmente por episódios de uma crueza extrema que não se limitam à Idade Média nem a povos visivelmente guerreiros.

A paixão nunca morreu. Reacendeu-se mesmo, na proximidade, quando fui à Dinamarca.
A Dinamarca estava, aparentemente, cheia de vikings - altos e louros, de olhos azuis, mas de uma pacatez extraordinária, de uma calma e de uma discrição que poucas vezes tinha visto. O que me encantou na Dinamarca foi a modéstia e a calma de gente que descalçava os sapatos na rua para andar mais à vontade, e bebia um copo de vinho no jardim, sentada na relva, depois de sair do emprego. Os herdeiros dos vikings pareciam ter uma serenidade e uma modéstia imbatíveis.

O Museu Nacional em Copenhaga mostrou-me objetos extraordinários - jóias, pedaços de tecido com mais de mil anos que tinham conservado o padrão, instrumentos musicais estranhos, carroças e utensílios belamente decorados.
E em Roskilde pude ver barcos - os barcos que continuo a considerar os mais belos e elegantes de sempre, que atravessaram o atlântico antes de sonharmos que havia terra do lado de lá.

Parece que os Vikings estão, agora, na moda. Para além da sua histórica 'ferocidade', os Vikings estão a ser descobertos como um povo com uma cultura rica e requintada, que deixou marcas um pouco por todo o lado: da Dinamarca à Grã-Bretanha e à Irlanda, com quem partilham uma história comum, da Rússia a Sevilha, de Istambul a Lisboa, da Normandia à Póvoa de Varzim.
A marcar a nova invasão dos Vikings está a exposição espantosa do Museu Britânico, que revive uma parte substancial da própria história britânica.

Na memória coletiva os vikings serão sempre 'o terror' de que fala um velho poema irlandês:

                                Bitter is the wind tonight.
                                It tosses the ocean's white hair.
                                Tonight I fear not the fierce Northmen warriors 
                                coursing on the Irish Sea.

Para mim, em contrapartida, serão sempre os construtores extraordinários do momento em que pisei as tábuas de um barco que dançava na calma de uma tarde quente no porto de Roskilde.


Viking Ship Museum
The British Museum - The Vikings
Os Viking hoje - A Viagem do Sea Stallion
Ancient Irish Poetry, Transl. Kuno Meyer
Viking Expansion - Iberia
Siglas Poveiras

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