domingo, 10 de novembro de 2013

Uma realidade inusitada

Castelo de Bragança - Portugal - 2013 

Se há coisa que me agrada quando estou de férias num qualquer lugar é “perder-me”. Perder-me nos sitios, deambular sem qualquer propósito, enfim ir ver.

É nesses momentos que descobrimos os sítios mais inusitados, por vezes menos turisticos, mas mais reveladores de quem lá vive. São as ruas secundárias, as passagens esquecidas ou apenas conhecidas de quem por ali vive ou por lá se ‘perde’.

É certo que esta atitude não está desprovida de riscos. Por vezes vamos parar a sítios menos seguros ou onde, por vezes, nos sentimos menos confortáveis.
Tal já me aconteceu em Praga, onde decidi seguir uma pessoa por uma passagem entre prédios e essa viela levou-me para páteos traseiros de prédios, cuja saída algo labirintica desembocou junto a uma oficina de automóveis. Verdade seja dita, só me senti mais seguro quando vislumbrei os transeuntes na rua, do outro lado da porta por onde saí  perante o olhar interrogativo dos mecânicos que me viram passar. Mas também é verdade que foi a mesma atitude que me fez seguir um jovem com uma bicicleta, descobrindo uma passagem pedonal por debaixo do Tamisa, em Londres.

No entanto, é nessa pesquisa pelo ainda não olhado que nos surgem os cenários inimagináveis como o da imagem.

Somiedo

Camping Lagos de Somiedo - Espanha - 1994

Da primeira vez fomos à aventura. Apenas tinhamos a referência da existência do parque natural e de que havia lá um parque de campismo. Da segunda regressávamos de França e a aventura ia sendo maior porque o parque estava cheio. Valeu-nos a hospitalidade dos responsáveis do parque.

Somiedo é um daqueles lugares mágicos. Não há nada e, talvez por isso, há um mundo fabuloso a descobrir.

O parque fica numa leira, a 1.600 m. de altitude e a escarpa que vemos na imagem sobe até aos 1.900. Do lado de cá da fotografia passa alegremente um riacho, ao qual a minha filha, então com quatro anos, se divertia a atirar pedras. Na aldeia, a Tasca do Aurélio fazia as delicias gastronómicas do almoço.

Descendo ao vale por uma estreita estrada ao estilo dos Andes (com uma vista fabulosa mas com uma berma assustadora) encontramos Pola de Somiedo. É aqui que existe alguma “civilização” e onde nos podemos abastecer para poder regressar à montanha.

De novo lá em cima, e assim que o sol se esconde, o frio da montanha toma conta de tudo. E quando a noite cai, no espaço deixado por entre o negro das montanhas envolventes, vislumbra-se um céu fabuloso, preenchido com milhares de estrelas. Um céu que até agora nunca vi noutro lugar.

sábado, 31 de agosto de 2013

66º 23´35” – Círculo Polar Ártico

Aldeia do Pai Natal - Círculo Polar Ártico - Finlândia - 2013

Alertaram-me para os mosquitos, mas estes quase não existiam
Falaram-me das auroras boreais, mas não era altura para as ver.
Mostraram-me postais cheios de neve mas esta só existe no inverno.
Falaram-me nos dias de noite permanente mas a época era de dia quase total.

Enfim, não foi a altura mais turistica. Mas o clima esteve ameno e a viagem foi surpreendente.

E, sobretudo, vi o Pai Natal.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Fotografar

Gradeamento em Fontfroid - França - 2003 (antes e depois de tratada)

Obviamente o primeiro objectivo é sempre a viagem. É ir. Visitar. Ver.
Fotografar é uma “consequência” natural. Ficar com o registo do momento ou do sitio.

No entanto nem sempre é possível conciliar as duas coisas. Ou porque não se pode fotografar o momento (é um momento fugaz, não se pode parar, a luz não permite, ...) ou porque, pura e simplesmente, não se tem a máquina.

Em viagem o material fotográfico pode também ser um problema. Ou pela cobiça dos outros ou pelo incómodo que por vezes representa.
Nesta questão o meio de transporte pode ser um factor limitativo. Numa viagem à boleia pode representar um perigo, numa viagem de comboio pode trazer algum desconforto (especialmente quando se está a falar de máquinas com alguma dimensão e respetivos acessórios).

Na era do análógico (leia-se rolo fotográfico) existiam ainda outros problemas a acrescentar: o custo dos rolos (maior se diapositivo, menor se negativo) e da revelação (exactamente o contrário), assim como, depois, a qualidade do serviço prestado pelo laboratório.
Obviamente havia a surpresa do resultado final. Muitas vezes para melhor mas, infelizmente, muitas vezes para pior (ou por falta de qualidade do fotografo ou, infelizmente em muitos casos, por falta de qualidade do trabalho do laboratório).

Com o advento do digital, o controlo do resultado final ficou mais próximo do momento da fotografia. No entanto surgiram outros problemas. Primeiro o limite da capacidade do(s) cartão(ões) de memória, depois a decisão de eliminar aquelas centenas de fotografias idênticas que não se teriam tirado se a máquina fosse ainda de rolo.

Numa época em que o digital domina (seja pelo prático que é para consultar, seja para utilizar neste blog) e começamos a olhar para o arquivo das imagens de férias, surge um novo desafio: digitalizar as centenas de diapositivos e negativos acumulados ao longo do tempo. Já agora tentando corrigir alguns dos erros que se cometeram, tornado passáveis aquelas imagens por vezes únicas, condenadas ao caixote do lixo.


O exemplo que se apresenta é uma das minhas primeiras incursões na matéria. Não sendo fabuloso (não possuo qualquer mestria na manipulação do Photoshop) revela-se no entanto promissor.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ponta Delgada, Açores, Portugal

Terminal de Cruzeiros, Ponta Delgada - 2007

Das duas vezes que lá estive, ambas foram em trabalho. Da primeira mal fiquei doze horas. Da segunda deu para ver qualquer coisa, uma vez que fiquei uma noite.

Embora o contacto com a cidade tivesse sido pequeno (trabalho oblige), deu para perceber quanto as pessoas são hospitaleiras, que, estando um sol fabuloso, os aguaceiros acontecem, que o peixe é muito saboroso e a carne divinal.
Enfim todos os ingredientes para eu querer lá voltar um dia. Mas de férias.

Curiosamente, esta imagem que anexo tem, para mim, um sabor um pouco diferente.
Aconteceu na minha segunda visita a Ponta Delgada. Terminado o trabalho, faltavam umas boas horas para apanhar o avião de regresso a casa. A mim e ao meu colega restava-nos deambular pela marginal.
Nesta nossa deriva chegámos até ao terminal de cruzeiros. A tarde estava cinzenta e chuvosa, a conversa mole e a mente cansada pelo dia de trabalho. A espectativa da espera e, depois, de viagem, reduziam ainda mais o alento.

Sentámo-nos numa das esplanadas que por ali havia, para comer qualquer coisa e descansar.
As nuvens começaram a dissipar-se. O ambiente estava calmo e, do café, ouvia-se musica clássica. Serviram-nos umas sandes acompanhada por cerveja.
Fosse do ambiente, fosse do cansaço ou fosse da ceveja a cair na fraqueza, o que é facto é que, de repente, senti uma sensação de descontracção e de uma enorme paz de espirito.
Peguei no telemóvel e tirei esta fotografia, enviando-a para casa, para fazer inveja ao resto da familia.

A única reacção que recebi foi de que a imagem era curiosa.

No entanto, hoje, sempre que olho para esta fotografia, volta-me à memória, com alguma nostalgia, a agradável sensação desse momento. 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Neve

Estrada entre Manteigas e Seia - Serra da Estrela - Portugal - 2004

A primeira vez que vi neve tinha eu trinta anos. Brilhava, em pequenas porções, no cimo de alguns dos montes que circundavam Innsbruk. Estávamos em 1991.

Alguns anos mais tarde, em pleno verão, estive mesmo perto dela. Estávamos em Andorra. Mas como tinha caído há poucos dias e ainda estava muito 'macia', não era seguro aproximarmo-nos, nos locais onde ainda subsistia.

Em Fevereiro de 2004 fomos até Seia para descansar uns dias. A neve, embora não imprescindível, era um dos propósitos. No entanto, quando lá chegámos, estava frio mas seco. Nada de neve.
Na manhã seguinte a dona da casa onde ficámos deu-nos a boa nova. Tinha nevado toda a noite, a serra estava coberta de neve e a estrada da Torre estava cortada.
Tomamos o pequeno-almoço e subimos até à Lagoa Comprida, limite da estrada transitável. Depois fomos até Manteigas. Pelo meio escorregámos, brincámos, enfim, divertimo-nos.


Durante todo o dia a neve não parou de caír. De tal forma que, no final do dia, muitos carros ficaram retidos na Lagoa Comprida. Os limpa neves e os bombeiros trabalharam até altas horas da noite para os conseguir "libertar".
Já vínhamos de regresso a Seia, saídos de Manteigas, quando o nevão aumentou de intensidade. Junto à pousada decidimos dar meia volta e retornar a Manteigas. A neve acumulada na estrada aumentava, nós não tinhamos correntes e nunca antes tinha conduzido na neve. A descida, muito lenta, demorou um bom par de horas.

À noite, já em “casa”, junto à lareira, depois de um  desvio pela Guarda para conseguir regressar, relembraram-se as aventuras do dia.

Embora a estadia durasse apenas três dias, valeu a espera de tantos anos. A natureza brindou-me com muitas emoções, cenários fabulosos e, sobretudo, muita, muita neve.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Salzburg - Austria

Salzburg -  2007 


Depois de uma noite de chuva, uma manhã primaveril, em pleno Agosto.

Abandonado o hotel que nos abrigou do mau tempo, estacionamos o carro junto à margem do rio Salzach. A chuva quase parara e o céu começava a aclarar.

A um passo de entrar na zona histórica da cidade de Mozart, o cenário não podia ser mais perfeito.
Na falta de uma máquina “decente” para registar o momento, o telemóvel cumpriu o seu dever, gravando de forma muito feliz o início de um dia memorável.

A meio da tarde, depois de uma visita mais rápida do que o desejado, continuámos viagem rumo a Viena, ficando a vontade de cá voltar.

domingo, 10 de março de 2013

Revisitar

Santiago de Compostela - 2011


Um dos dilemas que se coloca a quem gosta de viajar é o voltar ou não aos lugares por onde já se passou. Se por um lado a oportunidade de conhecer outros lugares é escassa (quer em tempo quer em dinheiro, sendo importante não disperdiçar oportunidades), por outro não se conhece verdadeiramente um lugar se não nos sentirmos lá como em casa. Para além disso, voltar a um lugar tem outra vantagem. Passado o fascinio da novidade começamos a ver os pormenores, o que realmente é esse lugar. Mais, assiste-se à evolução desse mesmo lugar (para melhor, para pior ou para diferente), o que é sempre uma experiência interessante.

Poucos são os lugares onde volto ou voltaria com prazer. Menos aqueles em que tive a oportunidade de o fazer. Santiago de Compostela está, em qualquer dos casos, no topo da lista.

Apesar de ter tido alguns anos de interregno nas minhas regulares visitas à cidade, a quantidade de vezes que já lá fiquei faz-me sempre sentir em casa quando aí regresso.

Da primeira vez, ao fim de dois dias já conhecia boa parte do “casco” velho da cidade. Ao fim de alguns anos aprendi a comer como os locais e a tirar partido das raciones. No entanto foram precisos mais uns anos para conhecer pessoas que, mesmo após uma ausência mais prolongada, nos fazem uma festa sempre que nos revêem.

A fotografia que publico é uma fotografia “clichet” da catedral, tirada do Parque da Alameda. Mas o que é que mais se pode fotografar ao fim de tantos anos de por aqui passar?
A primeira vez que fomos a Santiago de Compostela (ainda e gloriosamente no Fiat 600) foi, se a memória não me falha, em 1982. Partimos de Viana do Castelo, de manhã, num dia de muito calor. Chegámos ao fim da tarde a Santiago (após várias paragens para deixar arrefecer o carro e voltar a pôr água no radiador). Na altura ainda se podia estacionar frente à catedral, sem qualquer restrição.
A última vez (até à data) foi no ano passado. Chegámos a meio da tarde, vindos de Léon. Desta vez o carro teve que ficar num dos vários parques de estacionamento espalhados pela cidade.

Como referi, muitas das minhas férias passaram por Santiago, razão pela qual guardo muitas e boas recordações (mesmo quando chove, o que não é raro). Mas essa memória fica para outra ocasião. Apenas como curiosidade gostava de referir que foi também em Santiago que a minha filha, então com três anos, acampou pela primeira vez, rendendo-se (julgo eu) ao campismo e, claro, à cidade.

domingo, 3 de março de 2013

O Comboio

Kyle of  Lochalsh, Escócia - 1985

Desde miudo que “comboio” é sinónimo de viajar.
Embora andasse prioritariamente de camioneta, para destinos mais longínquos como Lisboa ou Coimbra ia sempre de comboio.
Este foi sempre o meu meio de transporte preferido. Não porque fosse propriamente mais confortável (com excepção do pequeno trajecto entre Alfarelos e Coimbra B feitos no “rápido” de Lisboa), mas porque era o mais aventuroso. Podiamos andar em pé, balançando ao som das rodas nos carris, tinha casa de banho (o que era sempre bom e onde se podia ver a linha passar por baixo da sanita, visão por vezes assustadora) e, à noite, no regresso de Coimbra, dormia atravessado no banco, embalado pelo movimento da carruagem.
Sobre a camioneta o comboio tinha ainda, para mim, outra vantagem: eu não enjoava.
Dessas viagens tenho ainda mais duas recordações: o facto de o meu pai saber sempre a sequência das estações e apeadeiros por onde passávamos (ou então enganava muito bem) e a eterna pergunta, quando a viagem já ia longa e cansativa: “ainda falta muito ?”.
Acima de tudo, desta época, ficou o prazer de andar de comboio, bem como o sonho e o desejo de fazer grandes viagens.

Sorte do destino quis que a minha companheira de aventuras partilhasse o mesmo desejo e paixão por comboios. De tal forma que, para poder apreciar o prazer da viagem de comboio, chegámos a “embarcar” de véspera o carro para o Porto e fazer a viagem no “foguete”, no dia seguinte. É certo que o carro em questão era um Fiat 600, com quase vinte anos, e de outra forma, a viagem demoraria uma eternidade. Mas o que nos agradava nesse pequeno luxo era, sobretudo, a viagem de comboio.

O comboio tem um problema. Pode ser a última maravilha da técnica ou... a última maravilha de há muitos anos (e por vezes sabe-se lá em que estado de conservação). No entanto, a meu ver, as vantagens superam em muito os inconvenientes. Para além da descontração da viagem, as linhas de comboio passam quase sempre por fora dos centros urbanos e das povoações, dando-nos uma visão diferente dos lugares e das paisagens. Mesmo quando entram nas cidades a visão que nos mostram é única e diferente. Guardo na memória, entre outras imagens, a vista deslumbrante do Porto, de cima da ponte Dª Maria e, por oposto, os bairros degradados dos arredores de Paris.

A minha grande traição ao comboio ocorreu na minha primeira viagem de longa distância. Bem mais económico, foi num autocarro que cheguei pela primeira vez a Paris, após dois infindáveis dias sentado num banco.
Nesse mesmo ano foi ainda um autocarro que me levou a Londres. No entanto foi o comboio que me permitiu um primeiro vislumbre da Grã-Bretanha e em especial da Escócia.

Numa época em que se investe cada vez mais em estadas, é ainda graças ao comboio que se podem admirar paisagens fascinantes ou chegar a locais longínquos como o da imagem.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

“A primeira Europa” – Veneza, Itália

Grande canal - Veneza - 1991

“Queres ir a Veneza ?”.
Ainda me lembro como se fosse hoje. Eu, encostado à ombreira da porta, a ler as pequenas noticias da  revista Sábado - por vezes fascina-me como a nossa memória guarda certos momentos com uma nitidez e uma exactidão fabulosos; ou não. Mas ali estava eu. Era uma sexta à tarde, ou sábado (“tanto faz, pá” como diria a nossa amiga Susana). Tinha mudado de emprego e, como tal, tinha poucos dias de férias. Em compensação tinha mais uns dinheiritos para gastar.
Apesar de só faltarem uns quinze dias para o inicio das férias ainda não tinhamos decidido o que fazer esse ano, nos cerca de dez dias disponíveis.
Mas voltemos à revista. Noticiáva-se uma exposição única, sobre sobre o mundo Celta. Reuniam-se pela primeira vez peças de todo o mundo (Celta, claro). O local: Palácio Grassi – Veneza.

E eu, que pensava que era o único ‘maluco’, perguntei: “queres ir a Veneza?” “Bora!” disseste tu sem pensar duas vezes. Olhámos um para o outro e relemos a noticia. “Éh pá. Era giro! Quanto é que custará?”.
Excusado será de dizer que, na altura, só a Manela é que tinha carta de condução e a Joana tinha um ano de idade. Isso, claro e o facto de nunca termos saído de carro para o estrangeiro (a Galiza não conta, porque é quase casa). Ah! E também não existiam todas as autoestradas, autopistas e autovias por onde hoje podemos circular. Mas o carro tinha pouco mais de oito meses.

A partir deste ponto a memória começa a falhar. Ou porque eu ainda estivesse a trabalhar e tenha sido a Manela a tratar de tudo, ou porque a memória tem dessas partidas e não guarda muito bem o que se passa quando estamos num estado quase eufórico.
O que é facto é que, no dia da partida, tinhamos um roteiro de estradas feito pelo ACP, as estadias reservadas (entre moteis e hoteis de três estrelas) e o contacto directo do médico pediatra (“Claro que a menina fica com os avós. Ai vai convosco? Não, não tem qualquer problema, só que não é normal”).
A bagajem do Corsa estava totalmente ocupada com duas malas de roupa, um pacotão de fraldas descartáveis e uns quantos frascos de comida para bébé. No bolso, quase tudo o que sobrava do dinheiro de férias, dividido por escudos, pesetas, francos e liras (ainda nem sonhávamos com o Euro) e um cartão ’multibanco’ que, esperávamos, deveria funcionar em Espanha (rede 4B) e Andorra (rede Klau). Escusado será dizer que não havia telemóveis.

Seis dias depois, saídos manhã cedo de Trento, estávamos a ‘descer’ o grande canal, de ‘autocarro’, admirando a magestade da estátua de um guerreiro Lusitano na frontaria do palácio Grassi.

No total, percorremos cerca de 7.000 Km, divididos por Espanha, França, Mónaco, Itália, Austria e Andorra.
Uma vez que o dinheiro que sobrava já não era muito, não nos foi possivel comprar grandes recordações. Mas os olhos, esses, vieram cheios.
Não foi própriamente a nossa primeira ‘aventura’, mas talvez a que mais gozo deu. Verdadeiramente à descoberta,  repleta de novidades e peripécias para contar. Mas essas ficam para outras ocasiões.

Agora quem não nos perdoa é a nossa filha. Não se lembra de nada.


Informação adicional em:

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Voar


Nuvens sobre a Grã-Bretanha - 2010

Quando era pequena vivia numa casa atormentada regularmente pelo troar dos aviões. 
Das traseiras do meu prédio avistava-se o Tejo e os terrenos que mais tarde vieram a ser a Expo-98. Quase se avistava a Portela. Os aviões passavam ali mesmo por cima, rentinhos ao telhado, e eu corria ao terraço para os espreitar. Vivia-se em pleno a aventura da conquista espacial e um dos meus primeiros heróis foi um astronauta, não o do anúncio, mas o Yuri Gagarine. Um dos meus primeiros sonhos foi ser astronauta e viajar no espaço. 
Era assim que eu juntava as minhas palavras favoritas - viajar no espaço.

Comecei a viajar razoavelmente cedo para a época em que cresci - corri o norte e o sul de Portugal; aos sete anos fui ao norte de Espanha e ao sul de França. De camioneta, claro! Aos onze fui à Madeira - de barco, claro! Poucos anos depois viajava para Paris para passar um mês.  
O espaço estava longe ainda. Mas viajar estava mais cada vez mais perto. E tornou-se uma paixão. 
Talvez o único motivo porque gostaria de ser milionária era para poder viajar a meu prazer, talvez mesmo comprar uma passagem até à Estação Espacial para ver a Terra lá de cima.

Viajar de avião foi sempre um sonho, parente pobre mas possível da viagem no espaço. 
Viajei pela primeira vez há poucos anos numa curta viagem até Paris, e ver o mundo acima das nuvens foi uma descoberta extraordinária. Estava um dia claro, de céu azul e nuvens brancas, e tudo tinha a luminosidade e o brilho de um mundo encantado: as eólicas de Montejunto, o desenho recortado da costa norte de Espanha, as pequenas ilhas ao largo de França, o azul profundo do mar e a manta recortada dos campos. Depois Paris, a surgir de lado, como se nascesse do horizonte. 

Ao contrário de grande parte das pessoas que conheço, adoro entrar num avião. A sensação da subida, a visão das nuvens, do céu, dos campos ou do mar, são sempre um fascínio que me remete para a essência da viagem: ver o mundo de outra perspetiva, descobrir novos lugares, novas paisagens.

Não me posso queixar. Tenho viajado por sítios maravilhosos e tenho os olhos cheios de visões belíssimas. Mas não me deixo enganar: ainda tenho muito espaço nos olhos e na alma para encher com outros lugares.
Assim os aviões me levem até lá.



sábado, 16 de fevereiro de 2013

Ir


Terras altas - Escócia - 2006

Há quem não goste, há quem não queira e há quem não possa. Finalmente há os que gostam e vão, como podem. Falo de viajar. De ir.
Durante muitos anos sonhei em conhecer novos lugares ou, simplesmente, ver in loco os lugares de que apenas conhecia fotografias ou documentários (a preto e branco, porque essas eram as cores da televisão da altura). As distâncias eram lentas ou caras, e as fronteiras difíceis de transpôr.
Durante muitos anos as minhas idas foram a lugares “perto”. No entanto todas elas me trouxeram sensações novas, agradáveis e, acima de tudo, enriquecedoras.

Até aos meus 18 anos os meus limites geográficos foram curtos: Palmela a Sul, Coimbra a Norte e Tomar a Este. Mesmo assim um privilegiado comparado com outros colegas. É certo que também tinha colegas que iam para a Serra da Estrela, ou o Algarve, ou até a Espanha, mas esses eram a excepção (que me causavam alguma inveja, mas também os que me faziam sonhar com viagens). Havia ainda os que iam à terra da familia, onde quer que ela fosse. Mas estes não contavam porque não traziam histórias interessantes para contar.

Com o 25 de Abril a informação passou a circular mais. O conhecimento do mundo aumentou, assim como a consciência do País. O sonho do meu irmão (e também o meu) era fazer uma viagem de Interrail, Europa fora. Mas, por muito em conta que o bilhete fosse, era sempre caro. E o limite de idade “baixo” para as nossas aspirações (mesmo quando este foi aumentado).

Algum dinheiro ganho em trabalhos de Verão e uma idade mais adulta, permitiram incursões mais arrojadas país fora. Da forma mais económica possível, claro. De preferência à boleia (na altura ainda era seguro), embora o comboio ou a camioneta pudessem ser opção (especialmente depois de se ter estado onze horas de polegar esticado, num mesmo sítio, sem conseguir boleia).
Mais tarde, com um rendimento regular, melhores meios e a constante vontade de ir, fui fazendo com que esse horizonte se fosse alargando cada vez mais, não tanto, nem ao ritmo de que gostaria, mas já de uma forma irreversível.

Já estive em alguns dos sítios com que sonhava, outros de que nem conhecia a existência. No entanto a lista dos lugares desejados ainda mantêm boa parte dos iniciais, agora acrescida de mais uns quantos.
Não sei quantos lugares mais conseguirei visitar, mas já não me posso queixar. Já estive e vi mais do que imaginei poder, na minha juventude. Agora, através da escrita e das fotografias, tento ir revisitando esses lugares e esses momentos, mantendo sempre esta vontade de ir.